terça-feira, 5 de outubro de 2021

Breves Considerações Sobre o Período Medieval


por Davi M. Simões

É comum evocar a Idade Média como a era do “obscurantismo”, do “barbarismo”, onde a Igreja comandava o homem em todos os campos com sua moral “opressora”, “conservadora”, “atrasada”. Principalmente no mundo acadêmico, que é progressista e modernista, não é raro ouvir que “certa atitude é medieval” ou que “somos muito inteligentes para regressarmos à Idade Média” etc. É normal escutar esse tipo de afirmação de professores de cursinho ensinados com livros didáticos que propagam a weltanschauung marxista, mas o espantoso é quando isso vem de intelectuais mestres e doutores renomados. Todas as mentiras difundidas pelos iluministas encontraram eco nesse meio de universidades paulofreirianas, com seus métodos pedagógicos falhos, onde os próprios professores reclamam de seus alunos, que, segundo eles mesmos, são energúmenos ou analfabetos funcionais, o que é contraditório já que estamos no Século XXI em pleno progresso da raça humana. 

Isso não quer dizer que muitos acadêmicos, mesmo entre os progressistas, não admitam o vertiginoso processo de decadência que culminou na neo-modernidade. O que acontece é que isso é sistematizado, mas o homem moderno é incapaz de achar uma solução, já que teria que desenterrar valores que esqueceu ou aprendeu a odiar. Trata-se tudo na superfície desde a pseudo-reforma, quando Lutero ignora a hermenêutica Católica para interpretar as Sagradas Escrituras da sua forma pessoal, modificando-as de acordo com as suas conveniências. A grande arma para solucionar a problemática da neo-modernidade é o acúmulo de virtudes frente aos vícios, pois a trans-humanidade nasce no homem velho quando ele aprende a colecionar virtudes - sendo as mais importantes a fé, a esperança e a caridade - controlando o gozo dos sentidos. Também é interessante contrapor aos direitos o senso de deveres, pois é mais proveitoso para a alma a obediência que a liberdade. Obediência a Deus e ao espírito.

Como então acreditar nos iluministas de uma época onde se matou mais gente em guilhotinas que a Igreja nas fogueiras da Santa Inquisição? Essas crenças errôneas vêm da histeria jacobina, a esquerdopatia. São crenças sentimentais oriundas, como o nome já diz, da sensibilidade, não do intelecto. E quem se pauta pelos sentidos se equipara aos animais. Os acadêmicos tentam julgar e punir sob a ótica marxista da história o que aconteceu há centenas de anos. Na verdade, a história mostra que o marxismo é impreciso, uma péssima literatura que originou a correção política e interpretações de senso comum sobre valores pretéritos. A razão é o suficiente para ganhar qualquer batalha contra um ideal ilógico baseado na emotividade que não possui fundamento algum, apenas prega o ódio jogando negros contra brancos, mulheres contra homens, pobres contra ricos. O ideal esquerdista é baseado na inveja, no assassínio, no ódio aos que possuem. E a verdade fala por si só, não precisa ser protegida tão apaixonadamente como faz a esquerda com suas mentiras impostas, algumas vezes, com a força da lei. 

Entre tantos reais progressos a “Idade das Trevas” nos legou o livro. Algo tão comum nos dias de hoje foi desenvolvido um a um pelos monges copistas medievais, já que àquela época as bibliotecas eram feitas de rolos de papiros, porque ainda não havia imprensa. Um livro é muito mais fácil de ler e de guardar que um rolo de papiro. Uma Era que cria o livro não pode ser assim tão obscura. Tudo bem que nem todo livro é bom, alguns merecem ser queimados, mas é graças ao intenso trabalho desses monges que obras da antiguidade chegaram ao nosso conhecimento. Os mosteiros foram muito importantes para o desenvolvimento da humanidade, defendendo a cultura dos ataques de bárbaros analfabetos e amantes do falo, preservou obras importantes. Também no âmbito da agricultura cultivando azeite e vinho, da pecuária, da gastronomia, do artesanato e da técnica em geral. 

Em um mundo formado por castas, como nas civilizações pagãs, mil anos de Idade Média favoreceu uma grande mobilidade social, onde plebeus se convertiam em nobres através de atos de heroísmo - valor superior, tão esquecido nesta era de hedonismo. Os povos pagãos sempre odiaram os fracos, assassinando suas crianças deficientes e seus velhos. Foi a Igreja que fundou os hospitais a partir do primeiro Hotel-Dieu em Paris. É necessário lembrar que na Idade Média a doença não era malquista, pois ela depura a alma e desenvolve virtudes como a paciência. Um exemplo disso é a Ordem de São Lázaro, uma ordem de cavalaria hospitalária formada somente por monges e cruzados leprosos, considerados abençoados e mais próximos de Cristo, que era pobre e foi tratado pior que um leproso. Hoje a doença e a pobreza são sinais de danação, ideia tipicamente burguesa, tanto quando a tolerância e o conformismo. A Idade Média acabou com a escravidão, tão comum aos povos pagãos - tanto gregos quanto africanos -, que depois ressurgiu no renascimento, tentativa patética de imitar a antiguidade. Outra falácia é que a Igreja considerava mulheres e negros despossuídos de alma, o que contradiz o próprio culto à Virgem Maria e aos primeiros mártires que eram mulheres. E o que dizer de São Benedito, Santo Elesbão, São Martinho de Lima, Santa Bakhita, Santa Ifigênia entre outros, além de três Papas - Vítor I, Melquíades e Gelásio I -, que eram negros? A Santa Igreja é incapaz de se equivocar e se contradizer dessa forma, alegando santidade à seres sem alma. 

A Igreja é um milagre bimilenar, a maior instituição caritativa do mundo e da história da humanidade. A Igreja é o que há de mais belo e sua sabedoria, doutrina e ciência em todos os ramos do conhecimento humano o que há de mais elevado. Somente dela poderia sair um penitente, asceta e místico como o Pai Seráfico São Francisco de Assis. Somente ela poderia desenvolver a arquitetura românica, gótica e a arte barroca, infinitamente superiores a qualquer arte pagã da antiguidade ou do renascimento, que é decadência. É na Igreja o ápice do direito, da linguística, da literatura, da astronomia, da teologia, da filosofia, da medicina, das artes, a fundação de universidades como as de Coimbra, Salamanca, Paris, Bolonha, Oxford, Cambridge, Colônia, Viena e tantas outras. São Católicos os neoplatônicos como Pseudo-Dionísio e aristotélicos como Santo Tomás de Aquino. Posso citar também Santo Agostinho, João Escoto Erígena, Hugo de São Vitor (grande educador das artes liberais), Alexandre de Hales, Santo Alberto Magno (criador do método científico), Roger Bacon, Duns Escoto, São Boaventura etc. 

A Igreja é a construtora da Civilização Ocidental, mas do Ocidente autêntico, não do ocidente da ONU, da União Europeia ou da ética protestante. Nem do ocidentalismo degenerado estadunidense. Só não vê quem não quer, quem está envolto em uma densa nuvem de ilusão, quem realmente acredita que o homem hodierno, com sua arquitetura de casca de ovo, como as obras de Oscar Niemeyer, atingiu o cume. Deus ama o belo e o sublime, por isso é da Igreja a alta cultura.

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