Há três espécies de temores: o temor mundano, o temor servil (atrição) e o temor filial (contrição), ou casto.
O temor mundano é o temor de criaturas ou de situações, por exemplo o temor de certos animais ou de andar de elevador.
Segundo Santo Tomás de Aquino o medo é uma paixão, e como toda paixão está mais presente no apetite sensitivo que no intelectivo. Ele considera a existência de onze paixões, seis concupiscíveis e cinco irascíveis. Os três pares de paixões concupiscíveis são amor e ódio, desejo e fuga (ou aversão), alegria e tristeza. E os pares de paixões irascíveis são esperança e desespero, audácia e temor, e a ira, que não possui outra paixão oposta.
Diz a Escritura: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.” Mateus 10,28.
O temor servil é o medo da punição divina, o medo do inferno. Para Santo Tomás “assim como o homem espera gozar de Deus e alcançar dele benefícios, assim também teme dele separar-se e sofrer-lhe as penas”.
O temor servil é imperfeito, pois nos afasta do pecado, mas não se baseia no amor de Deus.
Explica-nos o “Doutor Angélico”: “O modo do temor, porém, é insuficiente, e a lei que foi dada por Moisés desta maneira, afastando do mal pelo temor, também foi insuficiente. De fato, ainda que obrigasse a mão, não obrigava a alma. Por isso há outro modo de afastar do mal e induzir ao bem, a saber, o modo do amor, e deste modo foi dada a lei de Cristo, a lei Evangélica, que é lei de amor.”
Diz-nos o bondoso Deus no livro “O Diálogo” de Santa Catarina de Sena: “Considera estas pessoas, que abandonaram o pecado mortal por causa do temor servil; é necessário que passem ao amor virtuoso. O temor servil, sozinho, não basta para lhes dar a vida eterna.
O medo constituía a lei antiga, que eu dei através de Moisés. Ela se baseava no temor, pois o castigo seguia imediatamente à culpa. A lei nova é a do amor e veio com meu Filho; fundamenta-se na caridade. A nova lei não cancelou a antiga, mas a aperfeiçoou.”
O temor filial ou casto, por sua vez, é o temor perfeito e amoroso que nos aproxima de Deus pelo o que Ele é sem esperar nada em troca.
Santo Tomás afirma que “a caridade acrescenta ao amor uma certa perfeição, na medida em que se tem grande apreço por aquilo que se ama.”
E também que “deve-se considerar, entretanto, que entre a lei do
temor e a lei do amor são encontradas três diferenças:
A primeira consiste em que a lei do temor faz de seus observantes
servos, enquanto que a lei do amor os faz livres. Pois quem opera somente pelo
temor opera pelo modo de servo; quem, porém, o faz por amor, o faz por modo de
livre, ou de filho.
A segunda diferença está em que os observadores da primeira lei eram
introduzidos nos bens temporais. Mas os observadores da segunda lei são
introduzidos nos bens celestes.
A terceira diferença é que a primeira é pesada. A segunda, porém, é
leve.
Na verdade, ninguém tem verdadeira alegria a não ser existindo na caridade.”
No “Diálogo” Deus diz que “os que perseveram na oração e nas boas obras, os que na constância progridem na virtude, estes atingirão o amor-amizade. A estes, eu amarei como amigos, pois correspondo com igual afeição. Quem me quer bem como faz um servo com seu patrão, será amado por mim, o Senhor, na mesma medida; mas não me manifestarei a ele. Os segredos são revelados aos amigos íntimos somente!”
Similarmente Garrigou-Lagrange instrui que “este amor consta de admiração, de respeito, de reconhecimento, e, sobretudo, de amizade, que aliás implica simplicidade e intimidade; amor com toda a ternura e intensidade, amor do filho que mergulha de certo modo no olhar amável e na ternura do Pai, e quer para seu Pai tudo o que lhe convém, assim como o Pai faz com que ele participe de sua própria felicidade”.
E que “jamais amaremos Deus como Ele nos ama, mas o Espírito Santo inspirar-nos-á, apesar disso, um amor digno dele”.
Com respeito ao amor de Deus o teólogo francês ensina que “é um amor que começa por causar na alma um certo êxtase espiritual, não corporal, pelo qual a alma que ama a Deus sai de si, é como que transportada a Deus. Enquanto o homem natural pensa sempre em si mesmo e em seus próprios interesses, ainda que de modo confuso, a alma espiritual pensa quase sempre em Deus; ama a Deus verdadeiramente e, no mesmo Deus, ama-se a si mesma e ao próximo, para mais glorificar a Deus estando cheia de paz e de alegria, ao menos no mais fundo de sua alma. É então que a alma começa a confiar-se inteiramente em Deus; está na via do perfeito abandono de si nas mãos de Deus.”
A caridade é a única virtude que ainda progride após a morte corporal. Possamos então temer o inferno e odiar o pecado, mas, acima de tudo, por intermédio de Cristo Jesus, da Co-Redentora Virgem Santíssima Imaculada, dos santos e dos anjos repousar na eternidade com o Pai-Amigo amado.
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