terça-feira, 5 de outubro de 2021

Manifesto Monárquico-Distributista

por Davi M. Simões

A Monarquia Distributista da qual propomos está fundamentada em três dimensões: a filosófica, a política e a econômica. Portanto, uma dimensão reflexiva e duas dimensões práticas. É uma proposta de ação, militante, mas também a semente de uma nova cultura contra-revolucionária.

1 – A dimensão filosófica: está alicerçada na Tradição Católica (fruto da síntese entre a Revelação e a filosofia greco-romana). Devemos considerar que há identidades, como a hispânica e a latina, com raízes profundamente cristãs, herdeiras do que merece ser chamado de “ápice civilizacional” (majoritariamente medieval e “ocidental”). A raça e o clima influenciam o caráter, a personalidade e o temperamento de um povo, mas não são determinantes como creem os evolucionistas. As nações foram fundadas na era moderna e o nacionalismo é uma ideologia revolucionária (muito exaltada na Revolução Francesa) que faz com que uma pessoa se orgulhe do que não fez e odeie quem não conhece. O nacionalismo é sectário, supersticioso e utópico, além de religioso e vicioso. Já o patriotismo é virtuoso, equilibrado e são, nos permitindo aceitar nossos defeitos, sem mascará-los. Preferimos analisar os povos sob os seguintes aspectos: a identidade à qual pertencem, a pátria na qual nasceram e a cultura específica de sua região. Qualquer forma de governo deve ser descentralizada, dando maior autonomia à região, ao município e ao bairro.

Somos por um olhar mais patriótico-universalista, do que propriamente nacionalista. Miguel de Cervantes é genial não porque é hispânico, nem Shakespeare porque é inglês, mas porque Dom Quixote e Hamlet são universais, eles tocam qualquer alma, independente do sítio geográfico que são lidos. É isso que buscamos, atitudes universais que reflitam o que é justo e equânime, pois a verdade não deixa de ser verdade dependendo de onde é apregoada e defendida. “O certo é certo, mesmo que ninguém o faça. O errado é errado, mesmo que todos se enganem.” (G.K. Chesterton).

Outra consideração a ser feita é em relação ao imperialismo, que entendemos ser bom e, inclusive, essencial para um povo que acredita ser portador da verdade. Segundo o ditado, “no hay un pedazo de tierra sin una tumba española.” As civilizações tíbias e fracas deverão perecer! Não defendemos a autodeterminação dos povos, porque há raças e religiões que vivem em desacordo com o cristianismo, e relativizar isso é igualar a Verdade ao erro. Como bem disse Santo Agostinho: “dilatar o reino, senhoreando povos, aos maus parece ventura, e aos bons necessidade.”

2 – A dimensão política: está alicerçada na forma monárquica de Estado. Não a monarquia absoluta ou parlamentar (ambas revolucionárias), mas a tradicional, realmente democrática e orgânica. Particularmente a nossa herança é monárquica, mas há países profundamente católicos (como a Irlanda e a Argentina, para citar somente dois) que não tiveram tal origem. Ainda assim cremos na república como inferior à monarquia, mesmo esta sendo uma “república coroada”, com o sufrágio universal e uma Constituição escrita. O poder hereditário nas mãos de uma família que governe sem visar eleições quadrienais, onde seus indivíduos sejam educados para administrar o estado de forma suprapartidária com responsabilidade e respeito às tradições pátrias, será sempre melhor empregado e menos despótico. Hodiernamente um presidente possui mais autoridade e obrigações que os antigos reis absolutistas.

No Brasil, a república foi instaurada às escondidas, por um golpe sem apoio popular, tramado pelos militares (principalmente o exército) a mando das elites escravocratas enraivecidas com a abolição, e como consequência se praticou golpe atrás de golpe, até hoje, se alternando no governo quem a maçonaria internacional elegia ou permitia. A restauração da monarquia deve ser feita por aclamação popular, de baixo para cima, e não imposta, como foi a república. E o pré-requisito básico é que seja confessional (mas sem o padroado). A monarquia brasileira não era perfeita, mas a ruptura com o passado foi tão brusca, que ainda não nos recuperamos. Estamos, desde então, confusos quanto às nossas origens.

A monarquia tradicional deve ser bicameral, com uma câmara de representantes dos municípios e outra das corporações de ofício, eleitos diretamente pelo povo. As leis devem ser submetidas ao Direito Natural Integral e o governo régio limitado pelas câmaras, pelas cortes e pela boa doutrina dos teólogos.

3 – A dimensão econômica: está alicerçada na distribuição da propriedade. O distributismo é uma doutrina política e econômica desenvolvida pelos ingleses G.K. Chesterton e Hilaire Belloc, baseada na Doutrina Social da Igreja, e que se coloca como uma autêntica terceira via fazendo frente tanto ao individualismo liberal (burguês) quanto ao coletivismo socialista (ateu). O foco está nas famílias e no princípio do bem comum. “Tanto o socialismo, quanto o capitalismo, são produtos do Iluminismo europeu, e constituem, portanto, forças modernizadoras e antitradicionais. O distributismo, ao contrário, busca subordinar a atividade econômica à vida humana integral, isto é, à nossa vida espiritual, intelectual e familiar.” (Thomas Storck). É mais livre uma família que tem posses. Imaginem se cada uma delas possuísse três alqueires e uma vaca! Não estariam submetidas à proletarização, nem às grandes corporações. Por isso somos pelos pequenos empreendimentos locais e pelo boicote ao monopólio das multinacionais. “Distributismo não significa a redistribuição de riqueza pelo governo, o que seria socialismo, mas, antes, a distribuição natural de riqueza que se dá quando os meios de produção se encontram distribuídos o mais amplamente possível na sociedade.” (Christopher A. Ferrara).

A Doutrina Social da Igreja pode ser lida principalmente na Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, e suas ideias-força são a prevalência da família sobre o estado, o estado subsidiário (que entre unicamente quando falte a inciativa privada), a defesa da propriedade privada (inclusive do direito de herança), assim como a cooperação das classes pela paz social, formando corporações mútuas de patrões e empregados, onde estes não lesem aqueles, e aqueles respeitem a dignidade destes, pois “a concórdia traz consigo ordem e beleza; ao contrário, dum conflito perpétuo só podem resultar confusão e lutas selvagens”. (Leão XIII).

Só existe democracia quando é baseada na distribuição da propriedade! Um homem sem bens é um homem permanentemente dependente. Diz-se “distribuição da propriedade”, pois ao contrário do capitalismo, que prega poucas famílias com muita propriedade, o distributismo prega muitas famílias com pouca propriedade.

As três dimensões supracitadas precisam andar amalgamadas, inseparáveis com o Identitarismo Hispânico, o Tradicionalismo Monárquico e o Terceiro-posicionismo, tudo sob a Luz Perene do Catolicismo Romano.

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