sábado, 26 de setembro de 2020

Blog em Recesso

Este blog está entrando em recesso por tempo indeterminado.

Todos os artigos foram minuciosamente revisados e alguns tirados para serem aprimorados. Há ainda outros não publicados, que deixarei para o futuro.

Neste espaço é onde desenvolvo meu apostolado e escrevo o que considero importante, com o foco principalmente nos recém-convertidos ou em quem está em processo de conversão. Aqui transmito o que aprendi sozinho, por meio de estudos e reflexões, mas que gostaria que tivessem me ensinado há 7 anos e meio, quando descobri a Verdade.

Agradeço a compreensão dos leitores e aconselho a revisitarem os textos, talvez encontrem novidades.

Viva Cristo Rei!

Viva Maria Imaculada!

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Em Defesa de São Jorge (Contra a Nova Resistência)


por Davi M. Simões

Escrupulosamente, sempre que escrevo, objetivo falar muito bem de Nosso Senhor e Sua Esposa, a Igreja. Tento, dadas as minhas limitações (intelectuais, culturais e estilísticas), honrar a Tradição. Se já escrevi algo inaceitável à Doutrina de Cristo foi antes por ignorância que má intenção, e estou disposto a me retratar prontamente.

Aqui me encontro, novamente, em defesa da Fé. Fiquei sabendo que a seita de “metaleiros doidões”, a Nova Resistência, escolheu São Jorge como padroeiro. Ora, como um grupo abertamente pagão, que exalta cultos afro-brasileiros e inclusive regimes islâmicos, pode escolher um santo martirizado por bradar justamente que todos os deuses dos pagãos são demônios?

São Jorge foi um cavaleiro romano da região da Capadócia, hoje Turquia, do século III. Nasceu de família piedosa e cristã. Em plena época de perseguição romana aos católicos invadiu a corte do imperador Diocleciano e o repreendeu pelo culto aos falsos deuses.

“Os santos nunca hesitaram em depredar os ídolos, destruir os seus templos, fazer legislar contra as práticas pagãs ou heréticas. A Igreja – sem nunca forçar a crer ou receber o batismo – sempre se recomendou o direito e o dever de proteger a Fé de seus filhos, e impedir, quando podia, o exercício público e a propaganda dos falsos cultos.” (Pe. Matthias Gaudron).

O santo guerreiro foi um soldado valoroso e destacado. Um dia doou todos os seus bens aos pobres, trocou a armadura por uma roupa modesta e começou a admoestar corajosamente os idólatras. Dizia, como está nos manuscritos cópticos: “Tornar-me-ei um soldado do Senhor Jesus Cristo, o Rei dos Céus”. Mas foi precisamente o seu martírio, que converteu massivamente. Foi torturado por dias a fio, de formas inimagináveis. Colocaram sal em suas chagas e no fim, dia 23 de abril, tiveram que decapitá-lo, pois ele não negou sua fé. Até estendeu seu pescoço com alegria. A esposa do imperador se converteu e o torturador também.

Disse Nosso Senhor: “E quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os diante de mim.” (Lucas 19,27). Ser um soldado do Rei dos Céus, como foi São Jorge, é entender que Sua realeza não se restringe apenas aos batizados. Como sustenta Leão XIII: “Seu império [de Cristo] não se restringe apenas, exclusivamente, às nações católicas, nem somente aos cristãos batizados (...): abrange, igualmente, sem exceção, todos os homens, mesmo estranhos à Fé Cristã, de sorte que o império de Cristo Jesus é, em estrita verdade, a universalidade do gênero humano.”

No “Catecismo Católico da Crise na Igreja” o Pe. Matthias Gaudron explica por que honrar a Deus publicamente. A sociedade temporal deve necessariamente se submeter à Religião Católica: “Jesus Cristo – que é o único Mediador entre os homens e Deus – nunca é facultativo. E a Igreja Católica, que é a única Igreja de Cristo, muito menos.

Leão XIII ensina: ‘Honrando a divindade, as sociedades políticas devem seguir estritamente as regras e o modo segundo os quais Deus, ele mesmo, declarou querer ser honrado’.”

Para o Pe. Gaudron a Igreja e o estado, embora sendo duas sociedades distintas, não só não devem estar separados, “mas sua estrita separação é absurda e antinatural. O homem não está dividido em um cristão e um cidadão. Ele não deve ser cristão apenas em sua vida privada, mas em todos os domínios de sua vida. Deve, portanto, empreender uma política cristã, esforçando-se por colocar em acordo as leis civis com as leis divinas.” 

E mais à frente, continua: “Quando uma população é majoritariamente católica, o catolicismo deve ser a Religião do Estado. (...) As falsas religiões são um mal contra o qual o Estado católico deve proteger seus cidadãos. Deve, pois, proibir ou limitar tanto quanto possível o exercício público e a propaganda dos falsos cultos.”

Escreveu São Pio X, na Vehementer nos“Que seja preciso separar a Igreja do Estado é uma tese absolutamente falsa, um perniciosíssimo erro. Baseada, com efeito, sobre aquele princípio de que o Estado não deve reconhecer nenhum culto religioso, é gravemente injuriosa a Deus; pois o Criador do homem é também o fundador das sociedades humanas, e Ele as conserva na existência assim como nos sustenta nela. Nós Lhe devemos, portanto, não apenas um culto privado, mas um culto público e social para O honrar. Além disso, aquela tese é a negação muito clara da ordem sobrenatural. Ela limita, com efeito, a ação do Estado à mera busca da prosperidade pública durante esta vida (...).”

Como pode São Jorge ser padroeiro de pagãos adoradores do falo e defensores de aiatolás? A devoção ao santo veio para o Ocidente trazida pelos cruzados. Ele, em espírito, apareceu na primeira cruzada, instigando os soldados a avançarem contra os infiéis, e simultaneamente na Reconquista, no milagre da Batalha de Alcoraz. Assim retrata uma crônica da época: (...) Invocando o Rei [Sancho Ramírez, rei de Aragão] o auxílio de Deus Nosso Senhor, apareceu o glorioso cavaleiro e mártir São Jorge, com armas brancas e resplandecentes, sobre um muito poderoso cavalo ajaezado com paramentos prateados. Ele trazia um cavaleiro na garupa, e ambos com cruzes vermelhas nos peitos e escudos, divisa de todos os que naquele tempo defendiam e conquistavam a Terra Santa, e que agora é a Cruz e o hábito dos cavaleiros de Montesa. E fazendo o sinal ao cavaleiro que vinha na anca para que apeasse, começaram a combater os dois de modo tão forte e denodado contra os Mouros, de davam-lhes golpes tão mortais, um lutando a pé e o outro no cavalo, que abriam clareiras por onde quer que iam, e reuniam e acaudilhavam os Cristãos. O cavaleiro que trouxe o Santo Mártir São Jorge, diz a história de São João de la Peña alegada por Zurita, era alemão, e naquele dia e hora pelejava em Antioquia junto com os demais cruzados. Mas os Mouros abateram seu cavalo e rodearam-no para matá-lo; neste momento, apareceu o glorioso São Jorge, sem que o bom cavaleiro alemão entendesse nem soubesse quem era... e ajudou-o a subir na garupa do cavalo, e o tirou da batalha, e instantaneamente transportou-o para Aragão, ao local onde se dava a batalha do rei com os Mouros, então lhe fez sinal que apeasse e pelejasse (...) Espantaram-se os inimigos da fé vendo aqueles dois cavaleiros cruzados, um a pé e outro no cavalo. E como Deus os perseguia, começaram a fugir a ver quem mais podia. Pelo contrário, os cristãos, embora ficassem maravilhados vendo o novo estandarte da Cruz, alegraram-se, e redobraram seus esforços ferindo os Mouros: e assim os enxotaram do campo e acabaram vencendo.” 

Nada sai da alçada da NR, e a ela tudo diz respeito. Ela é hispanista e indigenista ao mesmo tempo. É “ortodoxa” e espírita. É islâmica e hindu. É tudo aquilo em que se pode tirar um caráter esotérico. O tal do “catolicismo popular” que prega, é simplesmente o milenarismo mais delirante (algo que um novo Antônio das Mortes solucionaria) condenado pela Igreja, desde Joaquim de Fiori no século XII. Ela também é distributista (sem seus membros nunca terem lido G.K. Chesterton) e brizolista, ou seja: pari passu com a Doutrina Social da Igreja, clama pela luta de classes (?). É um grupo absolutamente insignificante politicamente, que não seria conhecido se o Aleksandr Dugin (de quem são tirados seus fundamentos filosóficos, políticos e geopolíticos) não tivesse polemizado com o Olavo de Carvalho (*) (debate em que ele conseguiu perder do velho gagá). Todo o argumento duginiano se resumiu a isto: “o liberalismo é o mal absoluto; tudo o mais é aceitável, irrestritamente”. 

O grande inspirador dos neo-pagãos e neo-gnósticos dessa cepa é o amoralista F. Nietzsche. No “Ortodoxia” G. K. Chesterton compara o “filósofo” (em verdade, entendo o alemão mais como poeta) com Joana d’Arc, dizendo que ele elogiava os guerreiros, bravos e corajosos, enquanto a donzela de Orléans era tudo aquilo. “Ela não se limitou a admirar a luta, mas soube, também, lutar. Ela não temia um exército, enquanto ele, ao que parece, tinha medo de uma vaca.” Afirma ainda que o amante da “vontade de potência” morreu impotente e demente em uma cadeira de rodas. E sagazmente observa o erudito inglês: “Nietzsche sugere-nos que pairemos acima das bestas, abolindo a única coisa que nos coloca acima delas: o sentido de pecado.”

Minha preocupação não é outra senão com os católicos (que efetivamente nem devem existir entre eles, embora tanto tentem aproximação. Se existem são bergoglianos ou da “teologia” da libertação), de serem seduzidos pelo Rasputin do Putin. Nada mais nobre que um assaltante (**) pode sair de um movimento revolucionário, moralmente relativista. O repúdio do bruxo russo ao catolicismo não é só tácito, mas foi claramente expresso em uma entrevista: "O catolicismo não pode ser uma garantia de defesa contra a Nova Ordem Mundial, porque é um estágio de transição para essa ordem (...). A Polônia está em uma situação geopolítica trágica. Ambos – isto é, a Nova Ordem Mundial e nós eurasianos – queremos privá-la do seu catolicismo (...). É necessário derrubar o Catolicismo por dentro, fortalecer a maçonaria polonesa e os movimentos laicistas decentes, promover o cristianismo heterodoxo e anti-Papa" (***). Aqui ele deixa bem claras suas pretensões nacionalistas e imperialistas contra o Ocidente e particularmente a Polônia!

Que os membros da NR não se metam no que não entendem, com sua nojenta soberba luciferiana. Que cultuem Kali, Maomé, Mishima (um gay suicida) ou o Senhor Dugin (libertador Todo-poderoso, Lúcifer encarnado, que desceu do Seu trono venusiano para destruir o Demiurgo), mas deixem São Jorge em paz!

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(*) Link para quem se interessar em ler o debate entre o Olavo e o Dugin: https://www.pdfdrive.com/os-eua-e-a-nova-ordem-mundial-um-debate-entre-olavo-de-carvalho-e-alexandre-dugin-e175944798.html

(**) O fundador da NR Fortaleza e seu irmão (autodenominados “carecas do Ceará”) foram presos em flagrante, no dia 1 de junho de 2020, assaltando uma farmácia: https://www.facebook.com/portalitaocanews/videos/um-novo-v%C3%ADdeo-mostra-de-outro-%C3%A2ngulo-a-a%C3%A7%C3%A3o-r%C3%A1pida-de-um-inspetor-de-pol%C3%ADcia-c%C3%ADv/1103779843331122/?__so__=permalink&__rv__=related_videos

https://www.facebook.com/policiacivildocearaemacao/videos/policial-civil-de-folga-reage-a-assalto-e-prende-dupla-ap%C3%B3s-roubo-em-farm%C3%A1cia-na/250810972864992/

(***) Entrevista à Grzegorz Górny, publicada na revista Fronda, nº 11-12, janeiro-junho/1998, pp. 130-146.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

O Igualitarismo Mata, Mas é Para o Seu Bem

Negros supremacistas em manifestação petista, em São Paulo.

por Davi M. Simões

Adoro estereótipos, eles quase sempre estão certos. E o preconceito é civilizacional - alguns têm inclusive milhares de anos - mas não é justo colocar sempre a culpa nos outros. A islamização da Europa e a protestatização do Brasil são consequências da perda da fé católica, efeito do desconhecimento do Catecismo e da História. História esta que, pretensamente científica, quer ser a senhora e mestra de todas as coisas, se reputa acima da Teologia, que precisaria seguir os novos tempos, como se após a Revelação Deus mudasse de ideia para se adequar ao mundo, não tendo Ele criado o próprio tempo mesmo (e também o espaço). As Missas se esvaziam e os seminários e as ordens (principalmente as franciscanas) lotam de homossexuais como castigo por nossa tibieza. Nossa e do clero. Primeiramente nossa, por permitirmos esse clero que aí está. É como no âmbito secular, pois, como dizia Joseph de Maistre, “cada povo possui o governo que merece”. O melhor governo é o governo dos melhores, porém a idolatria cega à pessoa do Bergoglio inibe os fiéis de o admoestarem filialmente (se é que sua eleição foi canonicamente válida, apesar da existência da já pública e notória “Máfia de Saint Gallen”), como Paulo fez com Pedro, por querer circuncidar os gentios.

O espírito revolucionário liberal (“a fumaça de Satanás”, segundo o próprio “São” Paulo VI) entrou na Igreja com o herético e cismático Concílio Vaticano II, que foi pastoral, não dogmático, portanto não infalível. Ele queria a liberdade (com a liberdade religiosa e o laicismo, destronando Cristo mesmo em nações majoritariamente católicas), a igualdade (com o ecumenismo, igualando a verdade ao erro) e a fraternidade (com a colegialidade, que tira do Papa a autoridade – sim, defendê-lo realmente é entendê-lo como monarca infalível ex-cathedra – e a entrega às conferências nacionais de bispos). Em seguida o Encontro de Assis dá o golpe definitivo nas missões e padres missionários abandonam o proselitismo se vangloriando de nunca terem batizado indígenas, quando eles mesmos não são catequizados pelos selvagens e passam a viver pelados e em ocas. O indígena amazônico é o arquétipo da nova Igreja, o Homem em seu estado mais puro e inocente, antes do pecado original. É a tal “Igreja em saída” do Papa peronista (e Perón foi excomungado) que não tem dado bons resultados. 

Nunca abordo o assunto da vez, a política do dia, o novo “meme” que “viralizou”. Não sofro da coceira na língua que me atiça irresistivelmente a opinar sobre tudo o que acontece, no momento que acontece. Conservo-me estoicamente impassível aos assuntos da moda. Quando quero saber as novidades abro os livros patrísticos, pois são sempre os mesmos erros que se repetem: o relativismo sofista e o antropocentrismo gnóstico. Mas recentemente as palavras mais ouvidas são “racismo” e “democracia” (*), e por acreditar que isso durará por um longo período, decidi tecer um breve comentário, pois são dois temas importantes para a concretização da Nova Ordem Mundial: (1) a destruição da raça branca com a revolta violenta das outras raças e de brancos cúmplices. Hoje a raça mais exaltada é a negra, mas o objetivo é a mestiçagem completa, exceto dos judeus (o povo mais racista do mundo). E (2) a instauração global de um governo único, que imponha a democracia-liberal a todos os países da terra (comandados pela ONU, organização internacional de líderes não eleitos), com uma Constituição universal única, uma moeda universal única e uma religião também única (Nova Era), tendo um Papa progressista como cabeça. É a tão sonhada “fraternidade universal” para a “paz perpétua” kantiana que surgirá após todas as culturas e povos se uniformizarem (**). Por trás estão judeus, maçons, banqueiros e suas ONG’s eugênicas que visam, usando o nome de “ciência”, legalizar o aborto e desenvolver vacinas batizadas para a redução da população mundial em 1/3, para mais facilmente ser dominada. Daí o ambientalismo psicótico e seu malthusianismo falacioso. Todos os supremacistas negros e democratas extremistas trabalham para essa agenda. 

Vidas negras importam?

A raça negra é uma raça que pouco construiu. Observe o que era a Europa há mil anos e o que é a África hoje. Toda a história africana está banhada por sangue de lutas fratricidas, viver naquele continente é extremamente difícil. Nada obstante, no Brasil portugueses, espanhóis, italianos, alemães, sírios, japoneses também chegaram sem nada e construíram impérios. Então quantos séculos mais precisarão os negros para se integrarem? Reclamam de barriga cheia, como reclamam os black powers americanos e europeus, com seus carros importados e auxílios estatais. Acontece que respeito não se impõe na marra e com violência. Respeito se conquista. Qual a obra civilizacional do povo negro, além do animismo mais sensual e de músicas excessivamente minimalistas ao som de batucadas tribais? Culpar os outros é a rotina dos ressentidos, ofendidos e complexados. Quem hoje com internet no celular, youtube, MP3, PDF e cursos EAD pode alegar falta de oportunidade? Alguém poderia explicar para eles que qualquer cidade do mundo possui uma biblioteca pública? Mas a solução encontrada para os jovens da periferia é se aglomerarem nas esquinas para fumar maconha e ouvir o rap, música dos estadunidenses que tanto eles dizem odiar. Quando não o funk, com suas letras que depreciam a mulher e estimulam o sexo na adolescência. 

O negro odeia ser negro. O negro se pudesse nasceria branco. Quem desgraçadamente nasceu com a raça de Cam geralmente só encontra uma solução, como no “complexo de Fourier”, quer que todos sejam iguais a ele, os que são diferentes devem desaparecer ou morrer, por isso estão sempre se autoafirmando. O complexado precisa frequentemente se autoafirmar, seja ele negro, gordo, gay etc. O negro coloca na conta do branco todas as suas mazelas, na colonização principalmente (a terra é de quem conquista!), mas o que deveria ser levado em consideração pelo antropólogo não determinista (que, geralmente branco, gosta de explicar aos negros e índios o que eles devem ser) é que ela é parte do processo evolutivo. A raça humana não está em constante evolução, desde que desceu das árvores? Não são os mais aptos que sobrevivem? Então ou se assume que o negro é inferior (o que é equivocado, já que todos somos descendentes de Adão e de Noé), ou se abandona a hipótese evolucionista, que é racista. Mas abandoná-la é abandonar o progresso e reconhecer um artífice supremo inteligente. O que não se fala é que a escravidão, vergonhosamente uma instituição de todos os povos da terra (tipicamente pagã, extinta na Idade Média e ressurgida no Renascimento, como uma tentativa patética de imitar a antiguidade), ainda existe na África. Negros não eram escravos por serem negros, mas por serem vendáveis, como foram os bugres brasileiros para os bandeirantes. 

Hunos saquearam e mataram europeus. Portugueses estiveram 800 anos cativos dos mouros em sua própria pátria. Armênios foram massacrados por turcos, em um genocídio nunca reconhecido pelos algozes, maior que o Holocau$to. Russos mataram em torno de 5 milhões de ucranianos de fome (Holodomor). Japoneses, italianos e alemães foram brutalmente perseguidos pela política de Estado varguista e etc... Esta é a história da humanidade: contatos e/ou misturas. Não brancos e judeus são os únicos que podem se orgulhar da própria origem. Mas quem reivindica isto é racista. Racista! Fascista! E eis o Homem neomoderno numa guerra de narrativas onde o que mais se repetem são slogans e bordões. Sim, vidas negras importam, e passarão a importar mais na medida em que produzirem alta cultura e pararem de matar nas cidades, nos campos, na América, na Europa e na África (os seus e os bôeres). 

Nesse clima de guerra racial, não peçamos perdão pelo o que somos e pelo o que não fizemos. As causas “identitárias” trabalham para a burguesia e o Grande Capital, são pautas de uma minoria barulhenta. O pobre, a maioria silenciosa, que não tem o monopólio das cátedras universitárias e da mídia (que impulsionam diretamente a cultura – e mais recentemente a propaganda querendo ser a educadora das massas), está mais preocupado em preservar seu trabalho, sua família e sua religião. Quem se interessa por raça, classe, “gênero”, feminismo (que tira a mulher da submissão ao marido para entregá-la ao patrão, transformando-a de senhora do lar à escrava do mercado) e tutti quanti são idiotas úteis ao serviço da judaria internacional e suas ONG’s milionárias. Quem não sabe disto não conhece o básico, o mais primário a respeito de como caminha o mundo ou do punhado de gente que o governa, estando condenado a pastar (como um cadáver, hoje a Terra não passa de um pasto de vermes) e ser tocado ao abate kosher ou oferecido em holocausto sem perceber, existindo apenas para engrossar uma massa diabólica enferma sem essência e personalidade. A cura é somente uma: a intransigência no absoluto, manifestado em tudo o que é ordenado e hierarquizado, visto que não há nada mais desigual que a própria natureza.

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(*) Falei mais detalhadamente sobre o tema “democracia” em um artigo de 28 de janeiro de 2018, neste mesmo Blog: http://sobregirassoisepicosnevados.blogspot.com/2018/01/uma-defesa-da-propriedade-privada-e-da.html

(**) Sobre os fundamentos jurídicos da Nova Ordem Mundial, pode-se ler mais no seguinte artigo, publicado aqui em 23 de junho de 2018: http://sobregirassoisepicosnevados.blogspot.com/2018/06/critica-jusnaturalista-ao-estado-laico.html

segunda-feira, 11 de maio de 2020

O Ser e Deus

Visão Beatífica, por Gustave Doré.

“Dizei-me: de que pode falar um homem decente, com o máximo prazer?

Resposta: de si mesmo.” (Fiódor Dostoiévski)

por Davi M. Simões

A metafísica é o ramo da filosofia que estuda o Ser enquanto ele mesmo. Se tudo fosse imanência, a física seria a ciência mais excelente, mas como há transcendência, precisamos pensar metafisicamente. Dizer platonicamente que “a alma é uma esfera”, pode ser uma heresia para os aristotélico-tomistas, mas é a direção que trilhamos.

O Ser do Homem:

Somos maus e desprezíveis. Buscar no Homem seu Ser verdadeiro é entendê-lo como contingente. O ser humano é um ente fraco que nasce nu e desprotegido, durante a vida carrega dentro de si uma bolsa de excremento, faz questão de cultivar uma alma embaciada pelo apetite desordenado da própria excelência, e é incapaz de praticar o bem se não estiver na Graça. A soberba é um pecado supracapital, ou seja, é a cabeça (caput) de todos os outros pecados e o resquício daquele Non Serviam que obrigou o mais belo Serafim a deixar seu trono, que é ocupado hoje por São Francisco de Assis.

A autoexaltação é a semente de todos os vícios e nos assemelha aos demônios. Qualquer virtude perde seu mérito se não for fundamentada na humildade (a virtude mais falada e menos praticada), porque somente ela pode restaurar nosso estado antes da Queda. O humilde olha sempre para sua condição terrena (humus), pois mesmo possuindo sangue real desde a preexistência de sua alma (e a Santíssima Trindade em seu coração), estima a si mesmo no seu justo valor e esconde de todos seus bons atos (caso de fato os pratique), já que é impossível viver sem pecado por esforço próprio.

O humilde é aquele que (1) nada tem: é pobre de bens e de espírito, e com as esmolas lava a alma dos pecados; (2) nada quer: possui confiança na providência, tendo em vista que tudo o que necessita foi Ele quem nos regalou, como o ar, a luz e o pão; e (3) nada sabe: em silêncio e na quietude nunca quer que sua opinião prevaleça, estar sempre certo é sinal de apego a si mesmo.

O Homem humilde é um suicida, pela obediência se aniquila, como que morto para o mundo, para viver somente para Deus, não fugindo dos sofrimentos, e até os deseja dedicando-os às almas no purgatório.

O Ser de Deus:

Mas quem é Deus? Em Êxodo 3,13-14, “Moisés perguntou: ‘Quando eu chegar diante dos israelitas e lhes disser: O Deus dos seus antepassados me enviou a vocês, e eles me perguntarem: Qual é o nome dele? Que lhes direi?’ Disse Deus a Moisés: ‘Eu Sou o que Sou. É isto que você dirá aos israelitas: Eu Sou me enviou a vocês’.”

O Ser criado está sempre sujeito à tensão ser/não ser, temporalidade/atemporalidade, finitude/eternidade. O Ser não criado só pode ser apreendido no âmbito da fé. Como disse Edith Stein: “A ação de Deus não tem nem princípio nem fim; subsiste desde a eternidade, até a eternidade, repousa na imutabilidade mesma de seu ser: é ato puro. Não tem necessidade de nenhuma faculdade passiva que exija ser posta em movimento.” É Ele mesmo quem (juntamente aos seus anjos) tudo move. E também: “Deus é o ser que abarca e contém tudo e que enquanto tal é o único distinto de todo ser finito.”

Para o místico, se compreender o Ser é associá-lo à existência, então Deus está acima do Ser, pois não se assemelha a nenhum tipo de imagem. Deus mora nas trevas, escondido por uma escura nuvem do não-saber. Na mística mais especulativa, se diz que tudo é, exceto Deus, ou seja, Deus não existe, porque é o único “algo” não-criado. “Deus, o Eterno, o Incriado e o Infinito, não cria nada absolutamente semelhante a si mesmo, pois não há um segundo Eterno, Incriado e Infinito.” (Edith Stein).

Deus não é isto ou aquilo, mas somente Deus é Deus. É na vacuidade que Ele trabalha, no desprendimento de toda imagem exterior, para que Ele e a alma se tornem espelho um do outro.

Pode-se chegar até Deus positivamente através das criaturas, todas elas saíram de seu intelecto; ou negativamente, entendendo aquilo que Ele não é. Qualquer tentativa de descrevê-lo é debilidade e loucura, o mais adequado é silenciar.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

O Que é o Brasil?

Procissão do Fogaréu, Goiás.

por Davi M. Simões 

Mesmo compreendendo que raramente um judeu (principalmente se for alemão) escreve algo que preste (exceção feita talvez a Edith Stein e Max Scheler), me lancei ao estudo da “psicologia individual” de Alfred Adler. Com ele aprendi que todos os problemas nascem das relações interpessoais, então fugir para um eremitério seria correr do problema, em vez de enfrentá-lo. Para deixar de ver o próximo (infelizmente cada vez menos próximo, provavelmente alguém que se identifique com um símio) como inimigo ou competidor, como uma ameaça que desperta repugnância no trato (“alguém que pertence”, como disse León Bloy, “a uma multidão de mortos que parecem estar vivos, e tem apenas uma caricatura de existência”) é preciso, primeiramente, possuir um forte sentido de comunidade. Então o outro passa a ser um amigo, um companheiro, também parte da engrenagem que é a sociedade, e cabe a mim, mesmo sem fazer expectativa alguma de reciprocidade, me portar de forma afetuosa, desinteressada e cordial (no sentido buarqueano). Julgamos as pessoas pelo padrão que temos em mente, e às vezes a ótica com que encaramos a vida nos faz ter pensamentos automáticos distorcidos.

É necessário ter bem enraizado – o que até o momento ainda exige de mim esforço – que todos possuímos dentro de nós a Santíssima Trindade, como disse o santo barroco João da Cruz: “grande consolação traz à alma o entender que jamais lhe falta Deus, mesmo quando se achasse (ela) em pecado mortal; quanto mais estará presente naquela que se acha em estado de graça! Que mais queres, ó alma, e que mais buscas fora de ti, se tens dentro de ti tuas riquezas, teus deleites, tua satisfação, tua fartura e teu reino, que é o teu Amado a quem procuras e desejas? Goza-te e alegra-te em teu interior recolhimento com ele, pois o tens tão próximo. (...) No entanto, dizes: se está em mim aquele a quem minha alma ama, como não o acho nem o sinto? A causa é estar ele escondido, e não te esconderes também para achá-lo e senti-lo. Quando alguém quer achar um objeto escondido, há de penetrar ocultamente até o fundo do esconderijo onde ele está; e quando o encontra, fica também escondido com o objeto oculto.” 

Que belo chamado à contemplação e ao amor! Todo louco por Cristo deve venerar e servir aos Homens, sendo o último dos últimos, se deleitando na introspecção, porém também cuidando do próximo, não só dos familiares e dos patrícios, mas se compadecendo de cada pessoa que está adormecida para essa realidade que é ter a Trindade Santa dentro de si: eis a verdadeira dignidade humana que fundamentou toda a obra caritativa da Igreja. Não devemos nos irritar com as faltas alheias, e amar ao próximo verdadeiramente é instigá-lo a abandonar o pecado: faz isso o contemplativo ao rezar pela humanidade, e faz isso o missionário ao batizar o selvagem, arrancando-o das garras do demônio.

A primeira grande comunidade da qual pertencemos é a pátria, terra de nossos pais, e defendê-la até a morte é estar de acordo com o quarto mandamento. Disse Plínio Salgado que “ser brasileiro não é difícil, é só ser o que somos, e não o que os estrangeiros querem que sejamos”. Mas ele ignorava que o nacionalismo, para ser coerente, precisa ser católico e monárquico. Compreender o Brasil passa por estudar a religião do nosso povo, a instituição que o formou, sua arte culta e seu folclore (cultura popular).

O Brasil é um amálgama de raças. Mas antes já o era Portugal: Porto GalesPortus Cales, Por Tu Graal. Um povo que, como ensinou Gilberto Freye, “foi o colonizador europeu que melhor confraternizou com as raças chamadas inferiores. O menos cruel na relação com os escravos.” O seu ódio não era racial, o fato das navegações serem simplesmente a continuação do movimento de expansão iniciado pela Reconquista, fez com que sua luta fosse contra o infiel e o herege. À primeira Missa da Terra de Santa Cruz, juntamente ao ingênuo e deslumbrado bugre, assistiram tipos raciais distintos como cristãos-novos, descendentes de ciganos, de mouros e de todos os povos provenientes do Minho ao Algarve e além. Homens heroicos (os que não ficaram caranguejando pelo litoral, claro) que, após cruzamento com nativos, dão início, com as batalhas do Guararapes (que afinal de contas possuíram caráter religioso) e posteriormente com a Guerra do Paraguai, à unidade racial e territorial que hoje nos orgulhamos. Ah a guerra, sempre a guerra, mãe dos homens fortes e fundadora de civilizações! 

O Brasil nasceu em Ourique. As Cinco Quinas representam o Cruzeiro do Sul. E não é possível compreender nossa Civilização Luso-tropical fora do conceito de hispanidade em sua bicontinentalidade (indecisão entra Europa e África), a importância do Império, a arte barroca e o folclore de matriz medieval com seus tipos guerreiros (homens da Caatinga, caipiras e gaúchos), trovadores, cavalhadas e fogaréus. Quem não sabe disso, por mais que tenha lido todo o pensamento social brasileiro, não conhece nosso país. No Brasil a raça é o que menos importa.

Há ciência no âmbito das humanidades? Pode-se estudar seres humanos como peixes no aquário? É possível usar o método indutivo e epistemológico na História? Ela é cíclica, linear ou pontilhada? Sei apenas que, quando se trata dos maiores acontecimentos da humanidade, há mais contadores de história que “cientistas”. A hipótese da “evolução” humana (baseada mais em crenças metafísicas e ilógicas, que propriamente científicas), a Inquisição, a Lenda Negra, A Revolução Francesa, o “Holocau$to” etc. tudo foi escrito majoritariamente por pessoas comprometidas com uma visão de mundo judaico-maçônica e/ou marxista. Não acredito na História, e toda vez que leio Platão parece que escuto Léon Bloy sussurrar ao meu pé do ouvido: “a filosofia é o que há de mais inútil no mundo.” A linguagem pretensamente científica acadêmica é deselegante e carece de estilo, a forma ensaística lhe é infinitamente superior. Exemplos: um único livro de literatura, que foi o “memórias do subsolo” de Dostoiévski, influenciou grandemente o pensamento de Nietzsche, e a poesia de Ilíada e Odisseia os primeiros filósofos. Dom Quixote ensina mais sobre a Espanha que qualquer “cientista social” contaminado pelo liberalismo. E Machado de Assis não foi antes maior historiador e filósofo que romancista, contista e poeta? (*) 

Além do catolicismo, da monarquia, do barroco e das tradições de origem medieval vinculamo-nos aos outros povos de mesma origem pelo idioma. Falo, penso e sonho em inglês, é minha segunda língua, mas só sei expressar meus sentimentos mais profundos e religiosos na língua pátria, a última Flor do Lácio. Nada sobra no português, mas há palavras que faltam na língua bárbara. E a ausência da palavra no vocabulário representa a ausência do sentimento no espírito. Que poeta consegue ser gongorista em línguas não civilizadas? Minha pátria é a latinidade, geradora da hispanidade, pois só é possível filosofar catolicamente em latim.

Ninguém descreveu melhor o Brasil que Gilberto Freyre. Sua obra, inclusive, foi lida no Estado Novo salazarista para legitimar a manutenção das colônias portuguesas e por hispanistas de todo o mundo. É preciso visitá-lo e revisitá-lo: “casa grande & senzala”, “o brasileiro entre os outros hispanos”, “novo mundo nos trópicos”, “o mundo que o português criou” etc. Então, para finalizar, fica aqui minha homenagem ao maior sociólogo brasileiro, na pena de Nelson Rodrigues, para o Globo em 28/03/1970:

“Vejamos: outro dia, Gilberto Freyre completou setenta anos. Eu me lembrei de Hugo, Victor Hugo. No seu septuagésimo aniversário, a França parou. Toda Paris desfilou diante do poeta. Rosas, dálias, lírios, as flores mais inimagináveis foram atiradas a seus pés. Naturalmente que a maioria dos manifestantes eram os idiotas, não socializados, não organizados. Mas vejam o abismo que se cavou entre as duas épocas. Hoje, os idiotas, instalados em sua onipotência numérica, não concederiam ao grande homem um vago e reles bom-dia.

E assim Gilberto Freyre fez setenta anos debaixo de um silêncio brutal. Tive o cuidado de ler os jornais. Não vi uma linha. Minto. Vi num dos nossos jornais uma nota, espremida num canto de página. Quem a redigiu teve vergonha de elogiar um dos homens mais inteligentes do Brasil, em todos os tempos. Eis o que eu queria dizer: está em seríssima crise vital o país que não reconhece seus maiores homens.

Um companheiro ia passando e eu o chamei: “Olha aqui o que merece Gilberto Freyre.” O companheiro passou a vista e rosna este comentário; —“Por essas e outras é que o Amazonas tem menos população do que Madureira.”

Não é a primeira vez, nem será a última, em que falo de Gilberto Freyre e do seu exílio. Em nosso tempo, o Brasil tem sido o exílio do extraordinário artista. Os jornais não falam no seu nome, e vale a pena explicar, para os menos informados, esse mistério. A festiva infiltrou-se em toda a imprensa brasileira. Outro dia, passei num velho órgão. Enquanto esperava um colega, vi uma estagiária, dos seus 18, 19 anos, de sandália e calcanhar sujo. Estava lendo e titulando telegramas. Súbito, pega um dos telegramas, amassa-o e o atira na cesta. Diz para os lados: Gilberto Freyre não é autor que se cite.”

Aí está, num simples gesto e numa simples frase, a Operação Cesta. Os membros da festiva fazem uma vigilância feroz. Qualquer notícia que não convenha à esquerda vai para a cesta, sumariamente. Para o leitor, que nada sabe dos bastidores jornalísticos, pode parecer inverossímil o poder de uma estagiária de calcanhar sujo. Inverossimilhança nenhuma. Reparem como o editorial é uma coisa e o resto do jornal outra. A direção opina no editorial. O resto do jornal fica por conta da infiltração comunista.

No caso de Gilberto Freyre, as esquerdas têm-lhe ódio. Portanto, não se pinga uma palavra sobre a sua obra gigantesca. Falei no seu exílio na própria terra. E realmente ele é muito mais notícia lá fora. Escolham qualquer país europeu. Na Itália, França, Inglaterra, Alemanha, sua presença intelectual é muito mais poderosa do que aqui. Sim, o estrangeiro é muito mais sua casa do que o Brasil.

Isso só acontece num país que perdeu a sua consciência crítica. Bem sei que a “rebelião dos idiotas” é um fenômeno universal. Mas na Europa, nos Estados Unidos, todas reconhecem a dimensão mundial de sua figura. Ao saudá-lo, a Universidade de Sussex proclama que, depois de sua obra, o “Brasil tornou-se mais brasileiro”. Ao passo que, em nossa terra, as meninas de calcanhar sujo e os barbudos da festiva querem liquidá-lo pelo silêncio.

Tudo porque, na sua formidável solidão, não transige com as esquerdas. E, ao mesmo tempo, quantas mediocridades têm uma delirante cobertura promocional. Mas vejam: nos seus setenta anos, Gilberto Freyre fez uma obra para sempre. Daqui a cinco anos, os idiotas que hoje o negam ou, pior, que fingem esquecê-lo, vão desaparecer como se jamais tivessem existido. Daqui a duzentos anos, Gilberto Freyre estará cada vez mais vivo; e sua figura terá a tensão, a densidade, a atualidade da presença física.

Na minha juventude, os literatos patrícios perguntavam uns aos outros: —“Quando sai tua Guerra e paz?” E todos respondiam: “Estou caprichando.” Mas a Guerra e paz não saía. Eu só imaginava o escândalo que seria se, um dia, explodisse, no Brasil, uma súbita Guerra e paz. Até que, há pouco, fui ler todo o Gilberto Freyre. Li e reli. Fiz a enorme descoberta. Sua obra tem o movimento, a profundidade, a variedade do romance tolstoiano.”

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(*) A pequenez mental do “erudito” de carreira faz com que ele ache que só é válido o que é produzido dentro da instituição acadêmica, onde ela cita apenas a si própria (autorreflexão ou dogmatismo?) e qualquer dissidente é desencorajado a continuar, pois nem orientação consegue. A academia não produzirá conteúdo contra si mesma. Se todos adaptassem seus escritos às regras da ABNT, os discursos verdadeiramente eruditos se empobreceriam e enfeiariam. O tempo passa e Platão se revira no túmulo (?), cada vez mais teses e artigos tem se apresentado ilegíveis! Alguém aí estaria disposto a apostar que há progresso de fato trazido pelo tão sonhado “estado positivo” comteano?

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Oração Diante do Crucifixo (Para a Sexta-feira Santa)


por Davi M. Simões

Eis-me aqui, diante de ti agonizante, ao lado do teu casto discípulo amado e de tua mãe. Confesso, antes de tudo, minha pobreza, pois nada quero, nada sei e nada tenho.

Obrigado por tudo, porque do nada que tenho, tenho mais do que quero, do que preciso e do que mereço. Obrigado por teres me dado a vida, para gozar da existência; uma segunda chance, para conhecer a Verdade; e também pelos anjos encarnados que colocaste em minha senda.

És o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vai ao Pai, senão por ti (João 14,6). Foste o homem mais perfeito que habitou a terra; perfeitíssimo Homem e perfeitíssimo Deus. E quem não está contigo, está contra ti (Mateus 12,30).

É pouco o que te peço, “pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” (Rom 7,15-20), apenas que me inspires a ser cada vez mais violento e intolerante, como exiges de teus servos.

Senhor,

Quem é como tu, ó fonte primeva? Homem algum é digno de mencionar-te!

Quero amar-te como me amas, ó ser eterno e imutável! O Ser por excelência; de resto, tudo mais é contingente.

Para conhecer-te é preciso ter fé, e para ter fé, é necessário querer. Que minha faculdade volitiva esteja em sintonia com teus anseios.

Por ti, Divindade oculta, desejo aniquilar-me até à loucura. Não desperdiçarei meu amor, nem meu ódio, com nada que não seja útil à salvação.

Aumenta minhas virtudes, como o amor ao silêncio, a castidade dos meus membros e o tão difícil e custoso sorriso que desarma os desafetos.

Prometo castigar meu corpo, para o qual é doce praticar o pecado. Que minha vista, minha audição, meu tato, meu gosto, meu olfato sejam mortificados. A maior virtude é dar tudo a Jesus e nada a criatura alguma.

Todo meu esforço está no não-saber, praticando a douta ignorância, visando a mais alta união da mente com o Amado Pai. Procuro o esquecimento e o desapego de todo ente criado, sem deixar de admirar teus vestígios na natureza.

Quero louvar-te em meus atos, palavras e escritos. Que minha mente e coração almejem unicamente aquele conhecimento escondido em tuas trevas.

Imploro, ó Doçura da minha alma, que me mostres como alcançar a união santificante, onde a imaginação sossega, a memória esquece, a vontade ama, o intelecto desconhece.

Antes da união mística, subindo aos poucos os degraus da Escada de Jacó, devo desconfiar da imaginação, que é sempre atacada por memórias e imagens, mesmo as mais deleitosas, como as de anjos nos Céus.

Vire, Senhor dos senhores, para mim tua face, dando-me a paz, onde eu possa suspirar por tua bondade. A paz de uma alma em êxtase que, após se recolher ao alto do monte, tenta experimentar teus mistérios que estão além de toda imagem.

A boda com a Santíssima Trindade (acima, fora e dentro de mim) é a meta a alcançar com impetuosidade através de uma ascensão erótica contigo, que é o Noivo da minha alma.

A introspecção é a fonte mais nobre de conhecimento da Verdade, pois é quando o sujeito se confunde com o objeto. E compete ao contemplativo achar o fundo da alma (grund der seele, segundo Mestre Eckhart), onde se esconde a Trindade.

Minha delícia é carregar tua cruz, mas caio sempre, porém como tu mesmo, Senhor, na Via Crucis, não deixo de levantar-me, e confesso a ti minhas fraquezas, como miserável descendente da raça de Adão, neste mundo que me causa náuseas.

Perdão por diariamente ofender a ti e tua mãe. Mãe de misericórdia, sem mácula já na preexistência de sua alma. Ela que é vida e esperança nossa nos derradeiros instantes.

Bebo teu sangue, como tua carne, beijo tuas feridas, mesmo me achando indigno e abjeto.

Sei que nestes tempos findos, quase não há sacerdotes piedosos, e receber a benção de um herege é uma maldição. Ensinaste a Francisco de Assis e Rulman Merswin que os leigos salvarão tua Igreja de teus ministros corrompidos (“cloacas de impureza”, disse tua mãe em La Salette).

Quando voltares serão os teus sacerdotes e purpurados os mais duramente castigados. Ó, Justiça suprema, que momento terrível para aqueles que não se arrependerem!

Confio que em dois dias ressuscitarás e voltarás ao Pai em carne e osso, e muito em breve serei chamado para perto de ti, depois de pregar e sofrer como Paulo, e contemplar teus mistérios como João, para desfrutar da Visão Beatífica. Pois esta vida é célere e a terra comparada ao universo é um grão de milho. Ora, perder a alma por um grão de milho é a maior de todas as estultices, por isto, enquanto aqui embaixo, prefiro o combate à morte eterna, nem que eu sofra o martírio de Estevão.

Aprendi com Leonardo de Porto Maurício, que pequeno é o número daqueles que se salvam. Nem aos Papas há garantia de vida eterna, e quantos no inferno não blasfemam contra ti, por acharem ter levado uma existência santa. O destino da minha alma somente tu o sabes, Senhor, mas que eu, iluminado pelo Pai Seráfico, persevere até o fim.

Livrai-me, enfim, dos meus inimigos (a carne, o mundo e o demônio), lavai-me com teu sangue, e que eu seja, já deificado, o espelho de tua luz não criada. Pois se me deste inteligência, foi para servir exclusivamente a ti.

Amém!