sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Breves Considerações Sobre Personalidade e Modernismo

Arte moderna muito profunda para ser compreendida.

  

por Davi M. Simões 

Permitindo-me discordar dos grandes gênios do mal Marx e Engels, quando afirmavam que “a história da humanidade é a história da luta de classes”, eu defendo que a história da humanidade é a eterna e perene luta entre as forças luciferianas da revolução contra as da manutenção da Ordem. Quando me dizem que os novos tempos não podem ser detidos e que a revolução é imparável, eu me questiono se é realmente inevitável que a forma de pensar que acompanha a modernidade respingue em mim. Me pergunto se não é lícito resistir empunhando como maior bandeira o que é mais valoroso em cada um de nós: a nossa personalidade. Quando abrimos mão dela para nos enquadrar, reduzimos o sofrimento, que é o pavor do burguês (como estado de espírito, não como classe social) e das religiões orientais, como a budista. Para reconhecer a espiritualidade legítima é preciso aquilatar o quanto ela nos faz sofrer, pois a vida cômoda e pacífica é própria dos covardes de nossos tempos. Guerrear, resistir, nos afastar dos profanos e censurar o que consumimos gera sofrimento. Alguns santos hoje cultuados em nossos altares foram espancados pelo demônio e/ou foram chagados, e devemos viver inspirados neles, porque graças às sucessivas revoluções industriais levamos uma vida mais confortável que a dos reis de outrora.

A nossa dignidade se encontra na personalidade. Como disse Max Stirner, a palavra “eu” só pode ser dita por cada indivíduo sobre si mesmo, nunca para se referir a outrem. O “eu”, do ponto de vista psicológico, é a consciência de nossa própria identidade. “Eu” e pessoa constituem a nossa subjetividade, e a personalidade, que é dotada de vontade livre e responsabilidade, enquanto valor absoluto, se situa na terceira via entre a individualidade atomista stirneriana e lockeana, e a coletividade totalitária esmagadora da pessoa. Para Aristóteles a injustiça consiste nos extremos, o justo está no meio termo. Ele escreveu que “a justiça é a forma perfeita de excelência moral porque ela é a prática efetiva da excelência moral perfeita. Ela é perfeita porque as pessoas que possuem o sentimento de justiça podem praticá-la não somente a si mesmas como também em relação ao próximo”. Essa alteridade é intrínseca ao personalismo. Pessoas e famílias devem ser os fundamentos do estado, não o individualismo egoísta ou o coletivismo igualitário. 

O conservador conserva o individualismo revolucionário, e o reacionário reage como forma de escapismo da realidade, que ele considera um inferno. Mas somente o tradicionalista pode, olhando para o passado, restituir o que é bom, belo e verdadeiro pautado pela Lei Natural. O tradicionalista é personalista, portanto, está entre o regresso e o progresso. Ele entende o que é inegociável e combate a modernidade sem transigir. E somente ele pôde fundar, como foi a Idade Média, mil anos de progresso de fato: espiritual, portanto filosófico e artístico. Regressistas e conservadores são revolucionários, já que ambos incluem em suas cosmovisões resquícios de ideias modernas.

A modernidade se inicia com o voluntarismo e o nominalismo no seio da própria Igreja, como os embriões do que seria a pseudo-reforma protestante. O fundador da modernidade foi Lutero, mas inspirado nos erros teológicos de escolásticos antitomistas. Daí para a liberdade religiosa pregando a separação entre Igreja e estado, e para a Revolução Francesa com o soberanismo e nacionalismo, foi um pulo. O final do medievo marca o início da modernidade e os erros filosóficos foram se proliferando como epidemias após cada uma das três maiores revoluções: protestante, francesa e russa. Os danos causados por elas podem ser facilmente percebidos por qualquer um que honestamente estude a história da arte. Essas três revoluções destruidoras da sociedade medieval causaram, segundo Orlando Fedeli, três revoluções na filosofia (cartesianismo, idealismo alemão e marxismo ou materialismo histórico), três revoluções na arte (renascimento, romantismo e arte moderna) e três revoluções na economia (mercantilismo, capitalismo e socialismo ou comunismo). A total confusão mental em que nos encontramos é fruto do rompimento radical com a física e a metafísica aristotélicas e o Direito Natural Integral.

É contra as duas maiores enfermidades desta modernidade despersonalizante, individualismo e coletivismo, que devemos afirmar a metafísica e a ética da pessoa. A persona - um ator representando diante de si mesmo, da natureza e dos outros - como um ser que tem obrigações e discrimina o que é direito de privilégio.