quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A Educação é um Dever de Todos e um Direito das Famílias


“A boa educação é moeda de ouro. Em toda parte tem valor.” (Padre Antônio Vieira)

por Davi M. Simões

Há somente uma forma de se deificar: entrando pela porta estreita que é Nosso Senhor Jesus Cristo, perfeitíssimo Homem e perfeitíssimo Deus, com sofrimento, sacrifício, desapego... imitando-O no Sagrado Lenho. Mas, antes de tudo, ao contrário do que cantavam Nietzsche e Pound, pratiquemos uma radical (desde a raiz) moralização do falar, do agir e do vestir, ou seja, da vida em sua totalidade. Que nossos atos demarquem bem a nossa desigualdade! Um homem superior deve agir de forma superior e, em tudo o que fizer, em todos os seus movimentos, lembrar Deus em sua Ordem e perfeição. Pela criação é possível saborear Aquele Que É, o ato puro, essência e existência primeva. Se há outros mundos, outras dimensões, esferas e formas de vida, os números não mudam, o Primeiro Princípio continua sendo ao mesmo tempo 1 e 3, de onde emanam a Lei Eterna e a Lei Natural.

O profano, seguidor da última moda, entusiasta dos novos tempos, influenciado pelo imanentismo de Descartes, repetidor da epistemologia cética de Hume, arauto do cientifismo de Comte - dos quais ele nunca ouviu falar - só é hábil em vomitar estultícias e falácias. Falta a educação mais primária, o básico do básico, como uma gramática com substância, uma lógica reta e uma retórica com persuasão (pathos). Pelos mandamentos impressos no coração do Homem todos sabemos quando erramos e quando mentimos, e, se erramos e mentimos, como o sabemos se não há verdade? Defender a tradição não é defender o passado, mas os valores imutáveis. “Toda política que não seja tradição é seguramente traição.” (Arlindo Veiga dos Santos). Esta é a única postura rebelde no mundo moderno, a autêntica contracultura.

A educação não é um direito, mas um dever! E não falo da educação formal, que é indecentemente pobre no Brasil, onde se adota a "pedagogia" dialética e dialógica de Paulo Freire, que não criou nenhum método novo, apenas propagandeou porcamente o marxismo. Ler o autor é aprender o que não deve ser feito (entre outras sandices, no “Pedagogia da autonomia”, Freire estimula a insubordinação do aluno perante o professor). A educação mais importante é a informal, difusa. Não chego ao nível de Illich ao pregar uma sociedade sem escolas, mas é preciso desconfiar de instituições que se estruturam partindo de gente como o pastor Comenius com sua didática racionalista; Rousseau e sua teoria do desenvolvimento infantil, que ele coroa abandonando os cinco filhos no orfanato; Gramsci e seus intelectuais orgânicos; Dewey e sua escola renovada pragmática e experimentalista; Skinner, para quem o que vale para o rato, vale para o homem; ou qualquer teórico liberal-tecnicista, libertário ou “libertador”. Todos eles falharam. A filosofia e a arte modernas o provam!

Ser pedagogo é saber ensinar a quem, geralmente, não quer aprender. É uma arte só dominada por vocacionados. E ser andragogo é encarar alunos, mesmo em idade avançada, com deficiência cognitiva. Mas um bom retor sabe adaptar o discurso à plateia. O professor excelente é aquele que domina o conteúdo, que é uma autoridade do saber por conta dos seus estudos. Na paidéia grega o objetivo era a areté, a excelência na virtude, não a “liberdade de pensamento para uma sociedade democrática” (Dewey) ou a “luta de classes” (Freire). Ela era adquirida pelo desenvolvimento integral do ser humano, com a ética e a estética. Primava-se pela sabedoria, coragem, harmonia, beleza etc. É preciso ser nobre, aristocrático, para ensinar valores. O educador deve ser transformador sim, mas não da sociedade, ele deve transformar a criança, o jovem ou o adulto com uma técnica maiêutica: de dentro para fora. São as características fundamentais do educador, segundo o padrão de Clapp: virtude do acolhimento, boa aparência pessoal, otimismo, dignidade e reserva, entusiasmo, imparcialidade em retratar o necessário e não discriminar os alunos, sinceridade, simpatia, vitalidade e, last but not least, cultura.

Antes de abraçar a escola moderna brasileira, dita “crítica” e “reflexiva”, com sua LDB, seu MEC, sua BNCC e ações da UNESCO, primemos pela autoeducação. Não trato aqui somente do acúmulo de dados per si, mas do conhecimento que realmente liberta, e liberta a pessoa de ser absorvida pelo coletivo, sem, no entanto, se reduzir a um mero indivíduo atomizado. Vivemos em uma sociedade de sociedades, com famílias, municípios, paróquias, entidades de classes, ONG’s e outras comunidades, então é para nós mesmos e para a pátria que nos educamos. Educação também é etiqueta (regras de convenções sociais), cortesia, cavalheirismo e assim por diante. Não há nada mais politicamente incorreto que as boas maneiras, o amparo ao inferior, levantar para o mais velho sentar, tirar o chapéu ao ver um Padre, abrir a porta do carro para uma moça, ser limpo, ter trato no falar e no vestir.

A educação é a transmissão de valores, o que não cabe ao estado moderno, que deveria ensinar ao menos a ler, escrever e contar. Baseado em uma cosmovisão coletivista, o indivíduo nasce para a massa e é função do estado estar presente em todas as fases de sua vida, lecionando que o trabalho manual tem o mesmo valor que o intelectual. A família, segundo se crê, é incompetente, o que justifica a “educação obrigatória” como “direito de todos e dever do Estado” (Art. 205 - CF/88). A educação domiciliar, por exemplo, que já é provado ser superior, não pode existir, porque concorre com a estatal, daí que regimes totalitários nunca formaram eruditos e filósofos, vide o exemplo espartano frente ao ateniense.

No estado confessional, enaltecedor da Civilização Cristã, onde tudo é ordenado pela Igreja no plano espiritual e Cristo é declarado Rei no plano temporal, não há brecha para escolas sem Deus. As instituições escolares devem ensinar o catecismo desde a mais tenra idade, combater a coeducação e reservar os assuntos de sexualidade para as famílias (disse Nosso Senhor: “ai de quem escandalizar um desses pequeninos!”). Quatro são os métodos mais indicados para formar crianças para o Céu e homens sábios:

1 - A Educação Clássica - Iniciada por Pitágoras, está fundamentada no Trivium (gramática, lógica e retórica) e no Quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música), e eram as matérias da Academia Platônica, do Liceu Aristotélico e da Escolástica. É toda embasada no número e na letra, na ordem e na palavra. O estudo dessas Artes Liberais construiu a Civilização Romano-Cristã, continuadora direta da cultura greco-romana. Começa a declinar com o humanismo.

2 - A Educação Jesuítica - Inspirada na Educação Clássica e sistematizada no livro Ratio Studiorum, foi uma reação contra a pseudo-reforma protestante. Teve muitas vitórias e ótimos frutos na catequização de índios no novo mundo, civilizando-os. Estes eram ágrafos e, através do método, receberam uma requintada instrução. Sofre um grande golpe após ser proibida no reino e colônias pelo déspota Marquês de Pombal, e substituída pelas chamadas “aulas régias”, de caráter laico e enciclopédico.

3 - A Pedagogia Tradicional - Desenvolvida pelo alemão Friedrich Herbart, o precursor da pedagogia como ciência. Sistematizou seu método no livro “Pedagogia Geral” e acreditava no diálogo com a psicologia. Sua metodologia era a resolução de exercícios, a memorização, tarefas de casa e avaliações com provas arguitivas e escritas. O professor era o modelo e o silêncio imposto com autoridade. Ensinava a liberdade interior para desejar o bem, a plenitude dos valores nobres, a benevolência em relação ao próximo, a justiça e a equidade.

4 - O Sistema Preventivo - Resultado da vasta experiência de São João Bosco com os jovens. Chama-se preventivo porque colocava os rapazes na moral impossibilidade de cometerem faltas. Seu objetivo era leva-los à perfeição cristã, pelo desenvolvimento somático e psíquico (físico, moral, intelectual e, principalmente, espiritual). Era um método onde haviam castigos (para corrigir o mau uso da liberdade), mas também prêmios (como elogios, para mostrar quando o aluno estava no bom caminho). 

Quaisquer teorias e métodos (liberais, tecnicistas, progressistas, renovados, lancasterianos, waldorfianos, construtivistas, histórico-críticos etc.), que não sejam os quatro supracitados, são problemáticos, porque retiram a ascendência do mestre ao reproduzirem uma cosmovisão relativista (e niveladora) e superestimarem o experimentalismo, dando uma independência anômica ao discente, enfraquecendo sua vontade (liberando os desejos desenfreados). Urge uma gnosiologia não maculada pela epistemologia, que tanto deprecia o autodomínio e a introspecção. A realidade não é um dado interno ou o conhecimento obtido com a interação puramente empírica. Se a verdade existe somente no intelecto, ou, antes, nas coisas, explica Santo Tomás, de início citando o Bispo de Hipona: “Agostinho reprova esta definição da verdade: A verdade é aquilo que é visto; porque, então, as pedras, ocultas no mais profundo seio da terra, não seriam verdadeiras pedras, porque não se veem. Também reprova esta outra: A verdade é tal que é vista pelo sujeito, se quiser e puder conhecê-la; pois, se assim fosse nenhuma verdade existiria, se ninguém pudesse conhecê-la. E define assim a verdade: A verdade é o que é. Donde se conclui, que a verdade está nas coisas e, não, no intelecto. Mas arremata o Aquinate: Sendo toda realidade verdadeira, na medida em que tem a forma própria da sua natureza, necessariamente o intelecto conhecente será verdadeiro, na medida em que tem semelhança com a coisa conhecida, que é a forma do mesmo enquanto conhecente. E, por isso, a verdade é definida como a conformidade da coisa com a inteligência. Donde, conhecer tal conformidade é conhecer a verdade.” Quer dizer, há a objetividade do ser, mas também a cognição que apreende o ser manifestado. A verdade não é uma construção mental, ela pode ser conhecida e é a adequação do intelecto com a coisa, havendo nesta valor intrínseco. O conhecimento se dá através da sensibilidade e do intelecto, o processo de conhecimento do real, parte do homem e todas as suas faculdades.

Elucida-nos Mário Ferreira dos Santos, que “chama-se ‘teoria do conhecimento’ à explicação e à interpretação filosófica do conhecimento humano. É este um tema de magna importância e fundamental para a filosofia, e tanto é assim que muitos tratadistas julgam que, por ele, se deve iniciar todo e qualquer estudo.” Concordando com o maior filósofo brasileiro, acrescento que é um tema essencial, da mesma maneira, para o educador. A possibilidade do conhecimento deve possuir uma resposta dogmática para o católico, ao entender que ela é dada pelo contato entre o sujeito e o objeto, com a apreensão do segundo pelo primeiro. Afastando, assim, (1) o ceticismo, para o qual o sujeito não pode apreender o objeto; (2) o subjetivismo-relativista, para o qual a influência do meio determina o objeto, que sofre variabilidades. Limitando ou relativizando a validez do sujeito que conhece; e (3) o pragmatismo, para o qual a verdade é fundada na sua utilidade para a existência humana.

Quanto à origem do conhecimento, o educador católico deve assumir uma posição intelectualista, que procure “encontrar um meio-termo entre os extremos do racionalismo e do empirismo. A experiência e o pensamento formam as bases do conhecimento humano. O intelectualismo deriva da experiência os conceitos, mas estes exercem sua ação sobre as representações intuitivas sensíveis.” (Mário Ferreira dos Santos).

Ninguém pode negar que o estudo é um ato penoso, caso contrário não haveria tanta gente medíocre, que se conforma com a pouca instrução que de antemão adquiriu. “O bem mais escasso no século XXI não é a água, é a inteligência.” (Pierluigi Piazzi). O conhecimento pesa, pode ser insuportável, e alguns até se suicidam por isso. O labor intelectual e o ócio criativo cansam e consomem energia. Escrever este breve ensaio me tomou alguns dias, no entanto é como pintar um quadro ou desenvolver qualquer produto de uma arte servil. Um intelecto não progride, uma pessoa não fica mais instruída relativizando todos os “saberes”. Há uma alta cultura e a única forma de acessá-la é com livros, caderno e caneta em mãos, o bumbum na cadeira, silêncio e boa memória: esta é a atitude realmente libertadora!

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Programa Patriótico


por Davi M. Simões

Patriotismo é amor, devoção, reverência à Pátria, ao Povo, seus símbolos e seus antepassados. Nossa Pátria brasileira não se iniciou em 1500, a Terra de Santa Cruz tem sua gênese em Ourique, e sua vocação é dar continuidade ao espírito lusitano. As Cinto Quinas representam, em verdade, o Cruzeiro do Sul; e nossa raça, bem como a forma de encarar a vida, são muito portuguesas, com seus vícios e virtudes.

A brasilidade se encontra inserida na portugalidade, e a portugalidade, por sua vez, inserida na hispanidade, como círculos concêntricos. Não dirijo este manifesto a outros, senão aos patriotas luso-brasileiros.

O patriota luso-brasileiro entende a Ibéria como Christianitas Minor, quer preservar sua cultura latina e expandir a Reconquista iniciada em Covadonga. A localização geográfica de Portugal é bicontinental, mas sua cultura pré-moderna é fruto da Civilização Europeia, a Cristandade.

O patriota luso-brasileiro é católico. Porém católico não por ser patriota, e não haver Portugal sem a Igreja. Mais, é patriota por ser católico. Ele não acredita que cada “civilização” deve possuir sua religião tradicional, mas que o catolicismo é a única Religião verdadeira da qual todas as nações devem se curvar. Cristo é o Rei do universo e, por isso, Rei de todos os reis da terra.

O patriota luso-brasileiro deve execrar as três principais revoluções, frutos da modernidade, desencadeadas pelas três principais revoltas que irromperam em atos de terror e assassínios conduzidos pela turba mais vulgar, e que aceleraram o inevitável processo de decadência. A saber: a revolta contra a Igreja, em sua pseudo-reforma protestante; a revolta contra Cristo, em sua revolução francesa; e a revolta contra Deus, em sua revolução russa. A próxima revolução é morosa e está em curso, será cultural, tribalista e verde, com um culto místico e esotérico à natureza.

Dessas revoluções nasceram a degradação da política, com o estado laico; a degradação do Direito, com o positivismo; a degradação da economia, que é bífida, com o individualismo e o coletivismo; e a degradação da Religião, com o Concílio Vaticano II.

As ideologias são mitos religiosos e “religiões políticas” (Eric Voegelin). Para uma ação política eficaz é válido buscar inspiração em governos patrióticos do passado, mas sem cair no saudosismo imobilizador. O estado (seja monárquico ou republicano) deve se identificar com a Pátria, e o seu tamanho dependerá do fato de ser confessional ou não.

É possível encontrar um germen de verdade em cada uma das três maiores ideologias. Do liberalismo, se deve preservar a economia de mercado. Um estado organicista, defensor da Religião e dos interesses do seu Povo, salvaguardaria as empresas estratégicas, não as submetendo a especulação financeira internacional. Também estimularia as pequenas, médias e grandes empresas nacionais, desde que estas ofereçam bens e serviços iguais ou melhores que as estrangeiras. E cobraria pesados impostos das indústrias erótica e pornográfica, com o intuito de coibi-las. A propriedade privada e o direito de herança seriam protegidos, em nome da sobrevivência do trabalhador e perpetuidade da família. A livre iniciativa seria encorajada por uma maior desburocratização.

Do socialismo, se deve preservar a justiça social. Haveria um atuante ministério do trabalho com leis e direitos trabalhistas, sem onerar os patrões. Seriam idealizados e exaltados o trabalho na terra e o modo de vida do homem simples do campo, símbolos de cultura e tradição. A agricultura, pecuária, aquicultura e silvicultura seriam os ramos que melhor se beneficiariam com investimentos em uma imponente industrialização. Privilegiar-se-ia o cidadão autóctone.

E do fascismo, o corporativismo contra a partidocracia. O liberalismo político vê cada “cidadão” como uma unidade votante, onde a “soberania” vem da vontade da maioria, portanto o voto de um homem virtuoso e letrado vale o mesmo que o de um viciado tolo, menosprezando assim as desigualdades naturais. Seriam rechaçados os partidos e o conceito de classe social marxista, e ressurgiriam as classes profissionais, de forma horizontal, sem se submeterem ao estado e que não dependessem dele. São os corpos intermédios, não as “constituições escritas”, os autênticos representantes do Povo. As corporações, entidades de classes, não são concessões, mas nascem espontaneamente, elas garantem ajuda mútua entre aprendizes e mestres, e o controle de qualidade dos produtos. Corporações compostas por patrões e empregados desestimulam as greves e os oportunismos de agitadores subversivos.

Seria função dos pais a educação patriótica dos filhos e apenas completada pelo estado, que erradicaria o analfabetismo e lecionaria o catecismo às crianças. Uma instrução correta se baseia na contemplação do que é bom, belo e verdadeiro, e seu objetivo não é “conscientizar”, nem preparar revoltados sociais, mas formar o caráter. Mister é abdicar do legado das “reformas pombalinas” com suas escolas sem Deus e decretar São José de Anchieta como verdadeiro patrono da educação brasileira. Os silvícolas seriam responsabilidade do Estado para que, civilizados e catequizados, abandonem o abuso de álcool, que é endêmico em suas tribos, e as práticas infanticidas.

É preciso, evitando o reacionarismo, deixar de desconfiar da industrialização. Notório é que com o mercantilismo houve uma precarização das condições de trabalhado, que foi atenuada graças às conquistas na área social. Mas até o momento já passamos por várias industrializações (que vêm desde a prensa móvel, motor a vapor, luz elétrica, automóvel, avião, rádio, televisão, computador até a energia nuclear etc.), o próprio uso do celular com internet é um exemplo (é impossível prever o que ainda pode ser criado). A vida das pessoas jamais foi tão confortável. Saibamos utilizar essas ferramentas em prol do aprimoramento físico, moral, intelectual e pelo bem comum. E também da guerra, uma Pátria forte deve possuir seu arsenal bélico e nuclear próprios, para fazer frente ao multiculturalismo, defender sua mundivisão e demarcar sua independência frente as nações que querem nos dominar.

Em âmbito internacional, um governo patriótico deve evitar se submeter às organizações supranacionais e preferir as relações bilaterais. E caso necessária uma “constituição escrita”, que seja sintética, inspirada na Lei Eterna e se coloque acima dos tratados internacionais, evitando qualquer influência trans-constitucional no ordenamento jurídico. O propósito máximo do globalismo é a homogeneização e deve ser combatido.

Lembremos como maior patriota o santo Nun’Álvares, que antes de cada batalha osculava o solo de sua Terra. Nunca olvidemos seu amor e sacrifício por Portugal e pela Igreja. Ele que foi um monge guerreiro, devoto de São Jorge e Santa Maria. E como ele sejamos virtuosos e, arrastando nossos patrícios pelo exemplo, cultivemos no dia a dia a sobriedade, a pureza e o desapego.

terça-feira, 21 de maio de 2019

A "Ciência" dos Imbecis

Roger Bacon, o frade criador do método científico.

“Eis aqui o labarum dos imbecis. A ciência!” (Léon Bloy)

por Davi M. Simões

“Ciência”, a palavra mais repetida do vocabulário diminuto do ateu militante. Em verdade, a “ciência” é cria da filosofia. Após se separarem, a primeira se tornou mais mítica e dogmática que a segunda (é preciso muita fé para ser um cientista moderno). Mas se “ciência” é experimentação, substituição constante de ideias, o que vemos hoje são dogmas e alguns “pensadores” sacrossantos incontestáveis, embora facilmente refutáveis, por partirem de proposições sabidamente fantasiosas. O empirismo não é superior à ciência reflexiva (filosofia), porque por meio da lógica se pode chegar a verdades incontestáveis. Leiam a “Física” de Aristóteles, se entenderem. Foi escrita 1500 anos antes dos medievais criarem o método científico. O que conhecemos como “progresso” só foi possível onde seu pensamento foi estudado (graças aos medievais, novamente). Insignificante filósofo esse, que, com mais dois que lhe antecederam, nada fez além de ensinar o Homem a pensar. Obra de Deus ou de Lúcifer? Seria o daimon de Sócrates um anjo, ou uma entidade maléfica? Ou a Igreja, que em parte é cria sua, é muito certa e idônea, ou é a instituição mais satânica e errada da terra.

Sem deixar de levar em conta a Queda e a imperfeição humana, que nos tornam quase escravos da ignorância e da concupiscência, não precisamos abdicar de aspirar (e suspirar) pela perfeição e pela transcendência. Tendo em vista a corrupção inata, não é implementável qualquer ideologia pré-fabricada e utópica que nos levará à felicidade terrena. Para os escolásticos a felicidade completa não é possível aqui embaixo, pois o nosso fim é sobrenatural. No entanto, para a maioria, ignorar verdades e repetir “lugares-comuns” não é só pré-condição de felicidade, mas a salvação da própria sanidade mental. Em um mundo sério não haveria espaço para não-católicos. Um herege obstinado vale menos que um assassino, pois, além de ameaçar a paz social, condena os outros à morte eterna. Como disse Santo Tomás: “não é pecado enforcar com justiça os maus; são os ministros de Deus que o fazem, conforme o dizer do Apóstolo (Rom 13), e estes cumprem o Mandamento do amor, pois, se punem, o fazem ou para castigar, ou por causa de um bem melhor e mais divino. Ora, o bem de uma cidade é maior que a vida de um homem”.

Ser filósofo é ter ciência da própria ignorância e buscar, por meio da reflexão, um conhecimento diverso do vulgo e do senso comum. Hoje, no mundo “filosófico” – ou seja lá o que os piolhentos da esquerda entendem por isso – são os imbecis, como “a estagiária do calcanhar sujo” da crônica de Nelson Rodrigues, que dão as cartas. Imbecis amputados intelectualmente que tentam esquecer e combater o que deu certo por milênios, para construir um não-sei-quê no lugar, que nem eles sabem ao certo o que é. Leiam qualquer livro da Márcia Tiburi e, se estiverem entre os raros seres viventes sãos, saberão o que digo. Se não a compreendi, não foi por falta de capacidade – posso citar autores e indicar livros que vocês nunca ouvirão falar – e sim pela pouca habilidade da “escritora” com as palavras, na tentativa da construção de um raciocínio que ela chama de “pensamento arte” (sem saber, como boa moderna, o que é pensamento e o que é arte), com o agravante do consumo de drogas e a falta de um estudo sério de lógica (propedêutica no curso universitário de filosofia). Marilena Chauí, Leonardo Boff, Clóvis de Barros, Mário Sérgio Cortella, Leandro Karnal, Luiz Felipe Pondé e tutti quanti só se destacam em um país como o Brasil, uma nação carente de intelectuais (“de raça”, que não sejam meros carreiristas), onde Jean Wyllys é um erudito e todos os ditos “filósofos” célebres não passam de sofistas, ou seja, relativistas de boa retórica.

Pergunto-me qual o outro pré-requisito para ser um progressista, além de ser burro. Dizer que filosofia não é ciência deveria ser classificado como algum tipo de retardo mental dos mais graves, digno de figurar na CID. Filosofia é a ciência na forma mais pura! Os antigos e medievais já sabiam pela razão coisas que só foram experimentadas por Galileu e Newton. Além do mais, Copérnico era padre e Leibniz nutria um profundo respeito pela metafísica escolástica. Época obscura esta, em que filósofos não são cientistas e cientistas não são filósofos... É por culpa, principalmente, do maldito imanentismo cartesiano, que o divórcio entre filosofia e ciência é um dos maiores desastres do nosso tempo.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Revolução e Contra-revolução


“Os verdadeiros amigos do povo não são revolucionários, nem inovadores, mas tradicionalistas.” (São Pio X) 

por Davi M. Simões

O que é a revolução?

Houve, na história, diversas pequenas revoluções, mas a Grande Revolução (subjugação total das nações), por meio da Nova Ordem Mundial, já está sendo implantada pelos anjos caídos e suas diversas hierarquias e ordens (cada uma com funções específicas), objetivando, com o auxílio e veneração dos judeus e seus lacaios maçons, a subversão da Ordem Divina e a repaganização da sociedade. Para isto promovem a extinção da Igreja Católica (por meio de infiltração) e a destruição da heterossexualidade (portanto da família). Suas maiores armas são o ecumenismo, a partidocracia e a “ciência”.

Como reagir por meio da Religião?

A única força verdadeiramente contra-revolucionária é o Catolicismo Tradicional, em oposição ao Concílio Vaticano II e às duas faces mais visíveis do modernismo: o liberalismo e seu filho, o socialismo. O modernismo, segundo São Pio X, é a síntese de todas as heresias.

Como reagir por meio da política?

Combatendo a separação entre estado e Igreja (que devem ser unidos e harmônicos), e adaptando os regimes políticos à realidade de cada país. Em nosso caso, em sintonia com o hispanismo e o monarquismo (representativo dos municípios e das corporações de ofício, contra o parlamentarismo). Além de uma ação de resgate nacional, porém nunca telúrica ou sanguínea, mas espiritual: tendo como mitos fundadores a Batalha de Ourique e as duas Batalhas do Guararapes. Bem como a exaltação da arte barroca, da obra evangelizadora dos jesuítas e da chegada da família real ao Brasil. Precisamos também de uma purificação em âmbito filosófico, descartando toda a imundície não-católica que venha da Inglaterra, dos EUA e da Alemanha (as três nações mais degeneradas e heréticas do que comumente sói chamar “mundo ocidental”).

Como reagir por meio do Direito?

Com o Direito Natural tomista, banindo o kantismo e o positivismo kelseniano. Não se deve separar a ética da moral, nem o Direito da ética. Esta é o hábito (ethos) de praticar o bem e agir virtuosamente. O positivismo leva em conta apenas o que está escrito, sem dar importância às origens de um povo. Como ensinou José Pedro Galvão de Sousa: “o contrato social concebe o povo não mais como um conjunto de famílias e outros agrupamentos, mas como massa amorfa dos indivíduos ou ‘cidadãos’. (...) As constituições escritas se elaboravam sem levar em conta a formação natural e histórica dos povos. Esquemas de organização política eram importados por algumas nações seguindo o figurino da moda. O Estado deixava de se amoldar à constituição da sociedade, para se organizar artificialmente.”

Como reagir por meio da economia?

Com a Doutrina Social da Igreja (nem individualista, nem coletivista, mas priorizando a família, a defesa da propriedade privada que atenda ao princípio do bom comum, e o estado subsidiário). O estado é a reunião de famílias, e deve existir tendo como fim o bem da coletividade. Na sociedade política, “o indivíduo nunca se encontra isolado, mas participando de um ou mais agrupamentos. Entre estes agrupamentos, destaca-se a família.” (José Pedro Galvão de Sousa). O estado serve ao indivíduo, não o contrário. Ele pode entrar na economia para evitar monopólios como cartéis, trusts e holdings. E também para garantir as condições para aquisição dos bens materiais necessários à subsistência; como, paralelamente, a Igreja conduzindo ao progresso espiritual, porque “não só de pão vive o homem”. 

Um católico digno do nome não pode se filiar nem ao olavismo, nem ao duginismo, pois em ambos os casos cai em heresia, comprometendo a própria salvação. O primeiro defende o ocidentalismo anglo-saxão e a cultura judaico-protestante estadunidense e possui uma visão equivocada da liberdade e da função da propriedade. O segundo defende o orientalismo eurasiano e as culturas indígenas incivilizadas (de todos os continentes), o paganismo adorador do falo e o socialismo. Ambos são ecumênicos influenciados pelo esoterismo (Guénon, Evola e Crowley) e dizem se opor à modernidade, mas o fazem conservando resquícios de cosmovisões modernas (voluntarismo, nominalismo, romantismo, evolucionismo, existencialismo etc).

“É sempre fácil acompanhar os tempos; o difícil é conservar a própria personalidade. É fácil ser moderno, assim como é fácil ser esnobe. Ter caído numa destas armadilhas criadas pelo erro e pelo exagero que, moda após moda e seita após seita, estabeleceram-se ao longo do histórico caminho do Cristianismo – seria coisa indubitavelmente fácil. É sempre fácil cair: há uma infinidade de ângulos que nos podem provocar a queda, mas há apenas um onde podemos nos firmar. (...) Mas ter evitado todas essas coisas foi uma alucinante aventura; e na minha visão, o carro celestial segue trovejando através das eras, as negras heresias debatem-se por terra, mas a verdade é intrépida e bravia, embora vacile, conserva-se ereta.” (G.K. Chesterton). 

Há somente uma resposta para a crise da nossa Civilização Romano-Cristã: a Contra-revolução! E esta precisa estar firmada na Fé e no amor; um amor tão viril que nos ensine a odiar o pecado, nos mobilizando em uma Guerra Santa que termine – como nos áureos tempos da velha Europa – em um banho de sangue. 

domingo, 24 de março de 2019

A Estética da Morte


“Vem depressa doce morte

Acolhe-me em teu socorro

Que morro porque não morro.”

(Santa Teresa D’Ávila)


por Davi M. Simões

Tudo o que é criado possui peso, número e medida. A criação é lógica e assim deve ser o que for objetivamente belo. A beleza, a bondade e a verdade (presentes na Santíssima Trindade – transcendente, eterna e imutável) são captadas pelas potências superiores, que são a vontade e o intelecto, e também pelos sentidos. A vontade capta a bondade e o intelecto capta a verdade, ademais não se pode amar o que não se conhece, e conhecer a verdade sem amá-la, pelo menos não ordenadamente, é o que leva ao pecado. “Essa profunda relação entre verdade, bem e beleza faz com que chamemos de belas as ações que são moralmente boas. Também, por isso, as mães, ao repreenderem os filhos, lhes dizem para não praticarem ações más, porque elas são feias. Por sua vez, toda ação virtuosa é racional, e, quando alguém age mal, diz que errou, isto é, que agiu contra a razão. Por fim, quando a verdade aparece com todo o seu esplendor, dizemos que ela é bela: ‘Eis aí uma bela verdade’. Toda beleza é boa e verdadeira. Em contra-partida, tudo o que é mau é feio e falso. Tudo o que é falso é mau e feio. E o feio lembra o mal e o erro.” (Orlando Fedeli). Igualmente por meio da sensibilidade nos deleitamos no prazer do que é belo e sublime, seja criado por Deus ou pelo Homem: é o que chamamos estética. Uma obra de arte deve mimetizar a realidade e não distorcê-la, como é a práxis dos modernos (abstracionismo, dadaísmo, surrealismo e tutti quanti), que intentam expressar intuitivamente novas formas além das já conhecidas, transmutando o “espírito da matéria”, criando uma outra realidade suprassensível e misteriosa, eco dos anseios gnósticos e herméticos do romantismo.

Não há nada mais belo e intrigante que a morte, e precisamos cultivar o hábito de meditar sobre o fato de que sempre morreremos mais cedo do que planejamos. No cristianismo primitivo, na arte das paredes das catacumbas, a caveira era frequentemente retratada, não somente significando o fim da existência, mas o começo da vida verdadeira, com a morte para o mundo. Etimologicamente o lugar da crucifixão de Nosso Senhor, o Gólgota, significa “lugar da caveira” que, segundo a tradição, teria sido a sepultura de Adão, lavada pelo sangue do Redentor (o “segundo Adão”), “de modo que, como todos morrem em Adão, todos possam ressurgir em Cristo.” (Orígenes). Nas obras de Hieronymous Bosch, no século XV, o além-vida é excepcionalmente representado na forma de inferno, como o desígnio certo da maioria dos homens, dos que vivem a falsa e perecível vida dos prazeres. Era intencionalmente a arte do feio, do disforme e do grotesco, como só pode ser um lugar onde não impera a proporção e a harmonia, semelhante ao infernal mundo moderno, caricatura de tudo o que é diabólico. Após as três revoluções na arte (renascimento, romantismo e arte moderna), o que hodiernamente vigora é “a imaginação no poder”, quer dizer, não havendo mais regras de beleza, nem verdade objetiva, bom é tudo aquilo que eu imagino ser útil e proveitoso e todas a opiniões são corretas, ainda que contraditórias.

Conhece-se uma pessoa a partir da relação que ela tem com a morte. Todos sairemos do corpo, indubitavelmente. Mas quando? Como nos encontrará a doce morte? Cheios de luxos materiais, que não levaremos conosco, ou cultivando riquezas imorredouras como virtudes, sabedoria e, o mais importante, amor ao Cristo Salvador? Em poucas gerações estaremos olvidados, não seremos nem mesmo uma pálida lembrança. Cabe-nos então a morte em vida para este pântano malcheiroso que é o mundo e suas modas. “Muito louvável é aquele que todos os dias espera a morte; mas é santo aquele que todas as horas a deseja. (...) Muito bem disse um sábio que não se pode viver um dia bem vivido senão pensando que é o último.” (São João Clímaco). Mas que Deus nos encontre vigilantes: “Fiquem preparados para tudo: estejam com a roupa bem presa com o cinto e conservem as lâmpadas acesas. Sejam como os empregados que esperam pelo patrão, que vai voltar da festa de casamento. Logo que ele bater na porta, os empregados vão abrir. Felizes aqueles empregados que o patrão encontra acordados e preparados! (...) O empregado que sabe qual é a vontade do patrão, mas não se prepara e não faz o que ele quer, será castigado com muitas chicotadas.” (Lucas 12, 35-48). No entanto, quando uma alma é esposa de Nosso Senhor e Nele pensa com mórbida obsessão, e com confiança descansa em seus braços como a criança descansa nos braços do pai, ela nada teme, pois o telos da vida é a morte.

A morte física é consequência do pecado original, que passa a ser o destino do homem graças a enganação da antiga serpente, levando à Queda o primeiro casal (“O salário do pecado é a morte.” Romanos 6,26). Nada obstante, sem a morte a vida não estaria completa e não haveria o glorioso arrebatamento no fim dos tempos. O que mostra que Deus tira o bem do que aos ímpios parece mal. Jesus Cristo transfigura esse mal em benção, morrendo fisicamente submisso à vontade do Pai e ressuscitando. Para o cristão a vida não é tirada, mas transformada (“Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro.” Filipenses 1,21).

A estética é o ramo da filosofia que tem por objeto o estudo da beleza. E dentre as investigações filosóficas, o tema da morte é o que mais fascina e espanta. O espanto é a origem do pensar e para filosofar é pré-condição possuir tal sentimento. “A filosofia não tem outra origem (que o espantar-se) (...) Aquele que se maravilha sente que é ignorante; portanto, se foi para escapar da ignorância que estudou filosofia, é evidente que buscou essa ciência por amor ao conhecimento (Platão). Tenhamos todos, pois, frieza e indiferença estóica perante a morte, como teve Sêneca, que apontou as seguintes atitudes como configurando desperdício de vida: “Insaciável ganância, trabalhos supérfluos, a embriaguez, a gula, a inércia, a preocupação com a opinião alheia, a busca da adulação de superiores, a inveja pelo destino alheio, a falta de objetivos, a falta de rumo na vida, os bens (riquezas), preocupação com a eloquência, a necessidade de mostrar talento, a libertinagem, paixões ávidas, conversas inúteis, a glória, a avareza, a raiva, além de outros.” Conforme o filósofo espanhol, “aquele que não quer morrerrecusou viver! A vida na verdade nos foi dada tendo a morte por condição: é na sua direção que andamos. Que loucura temê-la!”. Se há beleza na morte, é porque ela, o grande enigma do gênero humano, assim como deve ser a arte, é a janela para o Infinito.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Pela Preservação do Estilo Hispânico


por Davi M. Simões

Como bem ensinou Manuel Garcia Morente: “la hispanidad es um estilo”. Ele diz ser um estilo que denota elegância, grandeza e indiferença perante a morte, que não seria o termo, o pôr do sol, mas a aurora, o começo da vida eterna. Porém é mais fácil dizer o que a hispanidade não é: não é raça, língua ou território. E não é europeia nem moderna. 

A hispanidade é (e nisso estão todos os hispanistas de acordo) o resultado da Civilização Romana que atinge o seu esplendor na Reconquista. E, segundo Morente, a figura que melhor representa esse “estilo” é o cavaleiro cristão: “los siglos de Reconquista han impregnado de religiosidad hasta el tuétano el alma del caballero cristiano; infundiéndole, además, la convicción de que la vida es, en efecto, lucha; la lucha por imponer a la realidad circundante una forma buena, una manera de ser excelente, que por sí misma la realidad no tendría. El caballero cristiano es, pues, esencialmente un paladín defensor de una causa, deshacedor de entuertos e injusticias, que va por el mundo sometiendo toda realidade – cosas y personas – al imperativo de unos valores supremos, absolutos, incondicionales.” 

Constitui a Hispania a síntese de várias civilizações e, por sua geografia privilegiada (bicontinentalidade) e tradição pré-moderna, se aproxima mais da África de Tertuliano e Santo Agostinho, que da Europa da “Paz de Vestfália”. 

Hispania protagonizou o acontecimento na história que teve par somente com a chegada do Homem à lua: a travessia dos oceanos para a conquista de novas terras, formando o maior império já visto, expandido pelas lanças dos “terços”, o exército mais temido da época. 

A hispanidade em sua forma mais pura, sem os estrangeirismos liberais ou socialistas, que nos legaram os caudilhos e as revoltas indigenistas, é a expressão máxima da Contra-revolução e dissente do nacionalismo, geralmente sintoma de um naturalismo infantil (enaltecedor das forças naturais como o território e a raça). 

A Civilização Luso-tropical participa da hispanidade, e, como nação monárquica, é nossa a missão de liderar a América do Sul contra o jugo de culturas alógenas que tentam nos impor sua influência e inculcar seus valores degenerados, como sistematicamente faz a América do Norte, nascida sob a égide do protestantismo mais judaizante.

A fundação da Terra de Santa Cruz é luminosamente representada na pintura “a primeira missa” de Victor Meirelles e alguns dos nossos tipos nacionais bem retratados nos quadros de Almeida Júnior, Raimundo Cela e Vasco Machado. Mas ao procurar um símbolo que resuma a Hispano-américa, a imagem que logo vem à mente é a de uma obra de arte oriunda da eternidade: Nossa Senhora de Guadalupe, a Virgem de feições mestiças, que com suas vestes indígenas converteu massivamente a população nativa. Eis aí a hispanidade: um estilo de vida que se enquadra e se amolda onde for preciso a Fé ser manifestada, sem limites territoriais, assimilando raças e culturas.

terça-feira, 5 de março de 2019

Admoestações ao Cavaleiro do Graal


“Sede vós perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos Céus.” (Mateus 5,48) 

por Davi M. Simões

Bem-aventurados aqueles que desprezam, porque permanecerão sãos de corpo e de Espírito.

Bem-aventurados aqueles que correm aos desertos, porque não serão importunados pela turba.

Fuja, ó Homem superior, fuja para as cavernas, e que não seja ao progresso vossas odes!

Somente tu estás vivo entre um sem-número de mortos-vagantes. Solitariamente caminhas por esta terra desolada, sem pecúnia nem alforje.

Querias levar Jesus a todos as almas, mas calaste. Calaste pois só encontras ouvidos moucos e corações endurecidos pelo amor-próprio.

És rei, monge e guerreiro em uma única criatura. Leão, cordeiro e águia como uma Quimera que, sob o estandarte desfraldado da cruz rubra sobre fundo níveo, como o escudo de Galahad, ataca sem piedade vossos inimigos, os inimigos do Princípio Primordial.

E que Ele vos perdoe, pois são poucos neste mundo sublunar os quais as mãos nunca pecaram contra a pureza. Ó mãos abençoadas, mais de deuses que de homens!

Desconfie de toda e qualquer crença que não pregue o sacrifício e o sofrimento. Desconfie de todos aqueles que pregam a paz não como um meio para se alcançar a ordem, mas como o fim último. Desconfie daqueles que creem absolutos certos valores generalistas e sentimentais. 

Ó Homem superior, somente tu percebes o quão venenosa e viciosa é a virtude do “amor” proclamada e pregada pelos porcos, cães e moscas que vos rodeiam... 

Ó Homem superior, somente tu entendes que a humanidade falhou, e só retomará sua missão quando vencer a si mesma e se divinizar... 

Aniquila-te agora, ó Homem, se por acaso almejas seres ainda um homem! 

Que a guerra e a Religião sejam vossa obsessão. Que os ícones e as iluminuras sejam vosso deleite.

Pela arte e arquitetura tu contemplas a baixeza a que desceu o homem-símio moderno. São as línguas e os corações duplos que comandam o mundo, já que a retidão dos valores transcendentes e a “inutilidade” das coisas belas sempre espantarão o homem inferior.

Parece que somente tu, ó Homem, em um raio de muitos quilômetros, possuis outros interesses mais altos, mais nobres que somente copular com o maior número possível de fêmeas, mesmo elas vos idolatrando e tentando esfregar em vossa cara suas genitálias.

Expurgue de ti todo pecado que clame aos céus por vingança, é melhor morrer que pecar mortalmente, que teres vossa alma desfigurada e lançada ao inferno.

Violência direcionada, agressão calculada e ódio santo contra todos aqueles que obstinadamente denigrem vossa fé.

Homem superior, fazes desta terra o vosso céu, onde o prazer em pelejar nunca abranda em vosso coração e a lembrança do Crucificado nunca se dissipa em vossa mente.

Mas ó distinto cavaleiro, nunca deixes de defender os pobres, os fracos e teres piedade dos doentes. Afinal, o que são esses simulacros de homens, senão enfermos de corpo e de espírito?

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Por Que Sou Tradicionalista


por Davi M. Simões 

A vida sobre a terra é milícia. Sou antes de tudo um Soldado de Cristo, portanto Católico e Tradicionalista. Ser Católico é amar a Nosso Senhor, Sua Mãe e Sua Esposa a Santa Madre Igreja encabeçada visivelmente pelo Papa, aceitando seus dogmas sem contestar e apoiado em seu tripé: Tradição, Escritura e Magistério. Ser Tradicionalista é combater o modernismo (rompimento radical com a Civilização Cristã, iniciado pelo humanismo e o renascimento) e suas revoluções.

Creio firmemente que tudo o que não é Católico deve ser eliminado, inclusive com o uso da violência. A conversão dos bárbaros por meio da admoestação é a atitude recomendável, mas não sendo possível entre pecadores obstinados, que o suplício da forca e o fulgor terrível das fogueiras sejam aplicados.

Amo minha Pátria, sou regionalista e tento preservar a tradição dos maiores que me antecederam, até onde suas crenças não se choquem com a Santa Religião. Rechaço o nacionalismo, por ser revolucionário e soberanista, e o separatismo, fomentado por gente de convicções liberais.

Sou filho de uma cultura popular predominantemente medieval (de poetas trovadores, guerreiros do mar e cavaleiros da Caatinga), onde a mentalidade revolucionária só se impregnaria tardiamente, após já ter feito estragos na Europa (na Alemanha, com o protestantismo, e na França, com o jacobinismo). 

Em primeiro lugar hispânico e em segundo lugar americano. De Portugal à Espanha, da Califórnia à Patagônia, e até na África e no Oriente, somos um povo conquistador e ainda preservamos em nosso imaginário a realeza de Dom Sebastião, a intrepidez de Amadis de Gaula e a lucidez de Dom Quixote. 

Monarquista, anti-constitucionalista, anti-parlamentarista (o parlamentarismo inglês é um modelo que nos é estranho), autoritário (não totalitário divinizador do estado), municipalista e corporativista. A preservação da família (cellula mater da sociedade), do município (cellula mater da nação), das corporações de ofício (verdadeira representação das classes) e da propriedade privada devem ser a prioridade de um regime integral, orgânico e realmente democrático. 

Uma constituição escrita, como um contrato impositivo de baixo para cima, não passa de uma monstruosidade despótica, idealizada, mas nunca integralmente seguida, onde os déspotas são os legisladores. “A justiça não é suscetível de se amoldar a fórmulas escritas, e toda lei escrita revela-se injusta na sua aplicação. Isso porque o mundo dos homens, ao qual deve se aplicar o direito, está em perpétuo movimento, ao passo que a lei é rígida.” (Michel Villey). Uma constituição deve ser consuetudinária. 

O Direito é aquele que não é nem fruto da legalidade (geralmente confundida com legitimidade) e nem fruto da razão, mas busca alcançar a máxima justiça, mesmo se necessária a desobediência civil. A Lei Natural é inerente a todo homem que acredita ser preciso submeter seus sentidos e instintos à natureza, e o Direito Natural é imutável alicerçado na metafísica.

A liberdade negativa (ausência de restrição) kantiana é um voluntarismo bárbaro que não consegue coexistir com a moral. E o desprezível e ditatorial conceito de humanidade é absurdo para todo aquele que ama sua herança ancestral. Em oposição a essa perspectiva, me enquadro orgulhosamente como um “ser desumano” que prioriza os deveres aos direitos, contra uma humanidade horizontalizada.

A Tradição (com “T” maiúsculo) repudia o progresso e o regresso, se afirmando em busca de uma ética da pessoa, combatendo o individualismo atomista e a coletivismo massificador.

Sigo o arquétipo do cavaleiro medieval, como foi São Jorge, El Cid, Nun’Álvares e outros heróis da Fé. Sendo São Francisco de Assis o mais agressivo e violento de todos, porque sua espada era a Verdade, e seu palafrém o próprio corpo, que ele domava com rédeas curtas.

Inspira-me como ideal-mor os templários, me encanta sua história e me atrai sua Regra. Obediência (entrega da própria vontade a Deus), pobreza (de bens e de espírito) e castidade (sem perder a virilidade) são os votos obrigatórios de qualquer soldado-monge moderno.

Venero a figura providencial de Dom Marcel Lefebvre, que combateu como cruzado o herético e cismático Concílio Vaticano II. Sem ele e sua Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), não teríamos a Graça de continuar recebendo os verdadeiros sacramentos e a Sã Doutrina não seria mais ensinada em alguns (embora poucos) seminários.

Não creio na Santa Sé vacante, considero tal ideia uma das piores heresias, pois se a Cátedra Petrina estivesse vaga, não haveria o corpo (a Igreja), uma vez que não há corpo sem cabeça (o Papa). Deus envia maus governantes para que o povo pague pelos seus pecados. Quem adota o sedevacantismo como posição teológica entrou em desespero e perdeu a confiança na Providência.

A restauração da Doutrina bimilenar se fará com um Papa que anatematize e anule o Concílio Vaticano II, prestando o juramento anti-modernista de São Pio X. E a restauração da Cristandade quando as nações declararem Cristo como Rei (na esfera privada e pública), pois o Reino dos Céus não é uma democracia, mas uma monarquia autoritária: não entra quem quer, mas quem merece.

Para finalizar, “a tradição é a democracia dos mortos” (G.K. Chesterton) e precisa ser preservada com o enfrentamento da modernidade de forma intransigente, intolerante e fanática, como bem ensinou Alfredo Pimenta: “os transigentes, os tolerantes, os indiferentes são lesmas e covardes. Só é fanático, intolerante e intransigente quem está convencido que é portador de verdade. A tolerância, a transigência, a indiferença são estados próprios de quem duvida, hesita e não se sente muito seguro da posição que ocupa. Têm-me acusado muitas vezes de fanático, intolerante e intransigente. Sou-o quanto pode sê-lo quem vive num século desvirilizado, essencialmente burguês, materialista e cético, e percorreu as sete partidas do mundo da cultura à procura da verdade nova, para só encontrar verdades falsas, à busca desinteressada do Sol e só encontrou crepúsculos frios. Quando voltei, desiludido, à minha tenda levantada no meio do tumulto, verifiquei que a única solução acessível às minhas inquietações e angústias era a tradição.”

Viva Cristo Rei!

Viva Maria Santíssima!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Impressões de um Católico Sobre a Filocalia


por Davi M. Simões

Os dois principais livros da Igreja “ortodoxa” são a Septuaginta (tradução grega da Bíblia Sagrada) e a Filocalia. Philokalia significa “amor ao belo” e é o nome de uma extensa compilação de vários volumes de textos “ortodoxos” antigos e modernos, selecionada por Macário de Corinto e aparecida primeiramente em Veneza, Itália, no século XVIII. No Brasil, por causa do relativo sucesso do livro “Relatos de um peregrino russo”, que a divulga, foi publicada pela editora Paulus a Pequena Filocalia, que é uma seleção em pouco mais de 200 páginas da Grande Filocalia.

A chamada “ortodoxia” é uma corrente cristã cismática e sem unidade, que reivindica para si toda a pureza da Igreja original, se autointitulando a única Igreja verdadeira. O cisma com Roma ocorreu em 1054 por motivos políticos e teológicos, ocasionando uma excomunhão mútua. Está no DNA dos cristãos orientais a adoração aos imperadores locais e a submissão ao império bizantino. Muitos catecismos e escritos “ortodoxos” não escondem seu rancor e até ódio à Roma eterna de Pedro e Paulo, e, por influência direta da yoga e do esoterismo oriental, é possível identificar práticas não tão ortodoxas e a brandura com teólogos de tendências gnósticas.

Ao ler a Pequena Filocalia me deparei com alguns pontos interessantes: (1) a pregação contra a necessidade das obras de caridade (não há no Oriente nada comparado conosco no aspecto de liberalidade e assistencialismo), (2) a ausência do estudo filosófico (eles consideram a fusão da teologia com a filosofia a raiz de todas as heresias), o que reflete em sua antropologia, que é limitada e carece de profundidade (isso seria resolvido com a aplicação da metafísica aristotélica) e (3) as similaridades com a espiritualidade oriental oriunda do sufismo (técnicas de respiração ao rezar as jaculatórias) e do budismo (anulação total da imaginação no momento da oração).

O livro prega o hesicasmo, que é um estágio superior de oração constante, onde o monge não cessa de recitar a “oração do coração” ("Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim"), nem mesmo ao conversar ou ao dormir. Toda a prática estaria voltada à constante lembrança de Deus. O tom enfático com que tratam do coração, da forma que é salientado, me lembra as práticas meditativas da ativação dos chakras – no caso o chakra cardíaco – pois o monge deve olhar em direção ao próprio peito enquanto ora. É cativante e irracional (o que é boa coisa) quando afirmam que os pensamentos e desejos não vêm da mente, mas do coração, que as tentações só invadem nossa imaginação, nos levando ao deleite, se estiverem já nele instaladas. “Deixar tudo, até nosso corpo, e desprezar a vida presente, a fim de não possuir, no coração, nada além de Deus”. (Filoteu, o Sinaíta).

O catolicismo combate as heresias gnósticas e iconoclastas, que não são tão abertamente criticadas pela "ortodoxia". O ódio ao corpo, como sendo sem utilidade alguma, e o repúdio às imagens tridimensionais (esculturas) são consequências desses dois erros. Também o uso exagerado dos mudras (principalmente do prithvi mudra e do bala mudra) é uma constante na missa e nos ícones. A separação com Roma deixou entrar novos ares na Igreja oriental, que não é mais tão pura como era com São Basílio e São João Clímaco.

É exatamente o contrário: a falta de ortodoxia das Igrejas orientais dá margem para infiltração de cosmovisões como a perenialista e a eurasiana, declaradamente luciferianas. A primeira aspira uma “religião comparada”, abstraindo princípios antropocêntricos universais relacionados ao divino e ao sagrado na origem de todas as religiões não católicas (claro que o catolicismo não entra nesse amálgama, por ser tóxico a qualquer forma de esoterismo, como bem notou René Guénon). Seraphim Rose, por exemplo, um hieromonge moderno, falecido em 1982, do qual o cadáver exalou por dias cheiro de rosas (“E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz”. 2 Coríntios 1,14), via o perenialismo como possuidor de um caráter salvífico. E a segunda quer unir todas as religiões e culturas em seus respectivos espaços próprios e identidades, igualando a Verdade ao erro, relativizando o fato do paganismo ser uma barbárie incivilizada, desde que se lute contra o “atlantismo liberal”.

A leitura da Filocalia só contribuiu para fortalecer minha convicção intransigente na fé católica, por perceber a ausência de frutos e a falta de integridade da doutrina dos cismáticos orientais. No fim dos tempos eles, juntamente com os protestantes e outros hereges, se converterão à verdadeira e inviolada Igreja de Cristo, mas até lá muitas almas se perderão, iludidas por uma pretensa “ortodoxia”. Que os cismáticos e hereges despertem e passem a amar Nosso Senhor verdadeiramente, desinteressadamente. Que o amor sensual se converta em amor transcendente, doentio e forte tal qual a morte, como entre os esposos dos Cantares de Salomão e como Alcebíades amou Sócrates.