domingo, 31 de dezembro de 2017

O Princípio de Hispanidade


por Davi M. Simões

Europa é sinônimo de Ocidente e Ocidente é sinônimo de progresso. Separo propositalmente o Ocidente do ocidentalismo, sendo este uma doutrina.

Alberto Buela conclama a Hispano-américa contra o Ocidente, já sobre os ombros de Ramiro de Maeztu. Ao ler “hispano”, entenda-se “íbero”. Seria a Civilização Hispânica parte do Ocidente? Ou seria ela sui generis?

“América-Latina” nunca existiu, sendo um termo equivocado, rótulo que provém do interesse expansionista francês. Já “Hispania” foi o nome dado pelos romanos ao chegarem à Península Ibérica, região que hoje é Portugal e Espanha, como dois dos primeiros estados nacionais, mas onde se fundiu um amálgama de povos e culturas. Portugal, por exemplo, esteve 8 séculos sob domínio mouro.

O Principado das Astúrias, com a devoção e o ódio santo de Pelágio, é o marco da Reconquista. Deus permitiu que os infiéis tomassem posse do território peninsular para forjar o povo na fé. Exemplo disso é o espetáculo da aparição de Santiago Matamoros na Batalla de Clavijo em 23 de maio de 844. Momento em que o apóstolo, empunhando sua cruz rubra em forma de espada, guia os cristãos contra as hordas norte-africanas, caindo mais de 5 mil muçulmanos.

Também na Hispania surgiu a "União Ibérica" como o maior império já visto, “onde o sol jamais se punha”, atingindo todos os confins do planeta, inclusive a nossa Terra de Santa Cruz, através de Portugal. Filipe II foi seu imperador, um homem intransigentemente católico, por isso tradicionalista, chamado posteriormente de “absolutista pelos democratas iluminados.

São os pilares de nossa civilização: a cultura greco-romana, o pensamento medieval e a hispanidade como atitude bélica de resistência contra-revolucionária. Não somos “judaico-cristãos”, como dizem os conservadores protestantizados, por dois motivos:

Primeiro que os judeus em nada influenciaram o Ocidente autêntico do ponto de vista filosófico. Sua contribuição ideológica é ao ocidentalismo com ideias materialistas e socializantes.

Segundo que a lei do temor foi aperfeiçoada pela a lei do amor que é caridade e justiça. Embora o povo judeu tenha sido devidamente disciplinado pelo Decálogo, ele não aceitou Jesus como o Cristo (os rabinos são os sucessores dos fariseus e adotam como principal livro o Talmud, que é repleto de blasfêmias contra Nosso Senhor e sua mãe). O motivo disso é que Nosso Senhor, embora Rei, nasceu pobre para confundir a avareza dos adoradores do bezerro de ouro e veio para todos os povos, não possuindo raça. Sendo a ausência de raça, aliás, uma característica da Civilização Hispânica.

Nada devemos ao judaísmo internacional, que nos legou somente a prática usurária de seus bancos, o derramamento ritual de sangue fomentado por seus agitadores sociais e, na contemporaneidade, a inoculação do mais mortal veneno de suas agências de notícias.

A Europa continental e do norte já haviam sucumbido ao pensamento revolucionário enquanto a Ibéria ainda preservava a monarquia tradicional. Germânicos, anglo-saxões e nórdicos romperam com a Igreja, e franceses se digladiaram no que Joseph de Maistre embasbacado chamou de “revolta de homens vis”.

As aventuras além-mar expandiram a cultura baixo-medieval por todo o mundo bárbaro. Na nossa América a obra civilizadora jesuíta e o barroco marcaram a identidade fundacional da Terra de Santa Cruz. Enquanto os índios ágrafos viviam na pré-história, o elemento luso trouxe o que havia de mais vertical em termos civilizacionais: da roda e do metal à educação liberal com a lógica e a música sacra. É exatamente essa herança baixo-medieval que proporciona o fato de, no interior mais profundo do Brasil, ainda cultivarmos termos e até costumes de origem europeia, esquecidos pelos próprios europeus contemporâneos. A título de curiosidade, em Goiás temos as "cavalhadas" simulando as justas cavalheirescas medievais, bem como ainda se fala de Carlos Magno e Dom Sebastião em poesias do cordel nordestino.

Nos mesmos passos de Georges Sorel reafirmo que o progresso é um mito, um mito religioso que ocupa na consciência o mesmo lugar que a religião. É burlesca a afirmação do progresso contínuo e indefinido da raça humana, onde no futuro próximo atingiremos uma sociedade livre, igual e fraterna. Igualmente risível é a teoria do "estado de natureza". Nesse mesmo espírito conjeturaram Spencer e Darwin. Muitas das várias teorias anticientíficas vigentes na academia pretensamente científica, colocam certos autores como dogmas. As doutrinas de Marx, Freud e Foucault não estão abertas ao debate.

Como disse G.K. Chesterton: “a tradição pode ser definida como uma extensão do direito de voto, pois significa, apenas, que concedemos o voto às mais obscuras de todas as classes, ou seja, a dos nossos antepassados. É a democracia dos mortos. A tradição se recusa a submeter-se à pequena e arrogante oligarquia daqueles que parecem estar por aí meramente de passagem. (...) Os mortos têm de estar presentes nos nossos conselhos. Os antigos gregos votavam por meio de pedras; os mortos devem votar por meio de pedras tumulares. É tudo muito regular e oficial, pois a maioria das sepulturas, como a maioria das listas de votação, são marcadas com uma cruz”.

A tradição é a democracia dos mortos, porque há mais mortos do que vivos. O tradicionalista se recusa a aceitar ideias não experimentadas, quando pode se firmar no que foi testado durante milhares de anos. Em contraste, para o progressista tudo o que é novo é bom. Ele agarra a novidade como o cão dócil não resiste à tentação de um brinquedo novo. O progressista tem ciência que é um mero macaco evoluído, ele se identifica com seu irmão primata.

A Civilização Hispânica, do ponto de vista geográfico abrangendo a Ibéria e a Hispano-américa, incluindo as terras luso-tropicais, pode ser chamada de Extremo Ocidente, mas do ponto de vista cultural é algo sui generis, nem europeu, nem ocidentalista. Sendo precisamente a Hispano-américa, com sua mentalidade pré-revolucionária, a nossa reserva espiritual e moral, nela ainda cavamos as trincheiras da Tradição.