terça-feira, 5 de outubro de 2021

Jogando Pérolas aos Porcos


por Davi M. Simões

Diante de Deus sou somente uma poeira. Ele me deu a vida e pode tirá-la caso seja de sua vontade. Sem Ele tudo seria dissolvido, mesmo o mais duro diamante se esfacelaria. É Ele quem mantém o universo com misericórdia e caridade. E foi por amor que enviou Seu filho querido, para resgatar a humanidade que não deu certo (*), atolada na imoralidade pagã. 

Saio em vantagem por ser lúcido e com bom raciocínio lógico, em parte por causa de muita leitura e estudo, e em parte por levar uma vida de introspecção e oração. A oração me ajuda a transcender a realidade imanente. Entendo a fé como superior à razão, como também entendia Tertuliano e outros padres apostólicos gregos e latinos. Através da razão os gregos nunca alcançaram o tão buscado logos – nem mesmo Plotino ou Proclo. Somente com os primeiros apologetas cristãos, através da fé, se conheceu o Verbum, a Palavra eterna, a maldita poesia que tanto embasbacou o mundo. Disse Tertuliano: “O filho de Deus foi crucificado: não me envergonho, uma vez que deveria me envergonhar. O filho de Deus também foi morto: é sem dúvida crível, pois se trata de uma coisa tola. E depois de ser sepultado ressuscitou: é uma coisa certa porque é uma coisa impossível”. Educar o imaginário crendo no absurdo só lhe fará mais humano (ou mais divino). Não seria a co-criação, como afirmava J.R.R. Tolkien, um chamado de Deus? “Contos de fada não dizem às crianças que dragões existem. Crianças já sabem que dragões existem. Contos de fadas dizem às crianças que dragões podem ser derrotados”. (G.K. Chesterton). Não estou comparando o Evangelho ao conto de fada, estou convidando o leitor a não compreender o mundo de maneira mecanicista. O culto da razão sem a fé, dos direitos sem os deveres e da liberdade sem limites nos mergulhou em um processo de decadência intelectual e cultural que é gritante e aparente, pelo menos aos homens superiores e de bom gosto. Sim, há homens superiores, bem como há a turba mais vulgar e risonha. O homem superior é mais precisamente aquele que entende ser um nada, aquele que precisa do Cristo e da Igreja, por ser limitado e sem virtudes. É aquele que tenta constantemente aprimorar o caráter. Pergunte ao homem vulgar se ele já se confessou a um padre, e ele dirá que não possui pecados. 

O confronto dialético entre um homem superior e um progressista é um acontecimento interessante. É a transcendência contra a imanência, a verdade contra o relativismo. É a sabedoria perene contra a última moda acadêmica, repetida como senso comum, se utilizando de uma retórica porca cheia de gírias, ad hominems e argumentos de autoridade. No fim, uma risadinha – ou gargalhadas, caso sejam muitos. E quase sempre são. 

O progressista está sempre pronto para indicar algum livro relativista a cada ideia politicamente incorreta que ouve. Ou achar que determinado autor não é acadêmico porque nunca ouviu falar. Se você afirma que o preconceito é útil, que ajuda a manter viva uma civilização contra ataques de inimigos estrangeiros, e que só a guerra e a religião possuem caráter civilizacional, ele prontamente lhe indicará qualquer porcaria que leu para escrever sua dissertação de mestrado. A estratégia é esta: indicar Marx, Freud e Foucault ou coisa que valha, e depois dar uma risadinha. Aí eu digo: já li Marx, porque leio Proudhon e Sorel; já li Freud, porque leio Jung e Allers; já li Foucault, porque leio Nietzsche e Bentham. 

Parte do ódio e descontrole que presenciamos em progressistas e, mais particularmente, esquerdistas quando confrontados com a verdade, provém de um quadro histérico e psicótico. Mas não desejo adentrar no tema que os doutores Andrew M. Lobaczewski e Lyle H. Rossiter tratam minuciosamente nos seus livros “Psicopatas no Poder” e “A Mente Esquerdista”, respectivamente. O que vale registro é que as ideias de esquerda se baseiam na exploração da compaixão e da culpa. O esquerdista é alguém frustrado que utiliza o estado paternal como solucionador de todas as suas psicopatologias. Essa minoria ocupa a cultura e propaga seu ideal através das salas de aula e cátedras universitárias, aparelhando o estado, que serve como a grande máquina para impor a vingança de suas mágoas e sentimentos de inveja e inferioridade. Como a cosmovisão esquerdista não se utiliza da lógica (logos), o discurso se transfere ao campo dos sentimentos (pathos). Os sentimentos de liberdade, igualdade, generosidade, felicidade etc. são imperativos, impossibilitando qualquer argumentação racional a favor de um meio-termo. Para o esquerdista tudo vale em nome da causa, inclusive matar e roubar, desde que seu paraíso terrestre seja possível. Como o comunista vive de repetir mentiras, qualquer postura que ameace seus valores (ou a falta deles) precisa ser perseguida e eliminada, caso contrário ele experimenta sensações de desamparo e ausência de sentido – podendo levar ao suicídio. Suas mentiras histéricas são, acima de tudo, condição de sobrevivência. O esquerdista foge da verdade como o Diabo foge da cruz, e suas proposições são mais falsas que o umbigo de Adão. 

Certa vez fiz uma progressista rasgar as vestes por dizer que a verdade, a bondade e a beleza não são subjetivas, mas absolutamente objetivas. Há valor intrínseco às coisas, uma coisa é superior ou inferior per si, independentemente do valor que damos. A verdade, por exemplo, está atrelada ao que é real. Se a maré enche e eu comunico o fato, o relativista é capaz de dizer que não concorda, mesmo sendo um dado incontestável que eu vi in loco. Ora, dizer que a verdade é relativa não seria afirmar uma verdade absoluta? A bondade, por sua vez, não pode ser utilitária, não é bom somente o que é útil ao meu desejo, prazer, ganho ou proveito. Cícero ensinava que um bem em si é o que é conforme a natureza. Nos “Deveres” ele declara que “a justiça, além de proibir prejudicar a alguém, impõe o dever de ser útil à comunidade”. Bom é tudo aquilo que é honesto e reto! Quanto à beleza, o que é esteticamente belo causa prazer em quem olha, assim como a feiura causa medo e repulsa. O belo é ordenado, simétrico, harmônico, proporcional, seja uma ópera de Handel ou o interior da Sainte-Chapelle. Há uma relação direta entre a beleza e os números. Tudo é medido por Deus. “A proporção numérica produz a beleza, quer traduzida em formas sonoras, quer expressa plasticamente. (...) Fruto da ação da inteligência, a proporção só será conhecida pela inteligência, e não pelos sentidos. (Orlando Fedeli). Uma música tem harmonia, melodia e ritmo em 7 notas; o mesmo se dá no corpo humano, temos 2 olhos, 2 braços, 10 dedos etc. Também Deus é 1, o que é material é 4, o que é espiritual é 3 e assim por diante. 

Quero dizer aos homens superiores que eles estão condenados a serem ridicularizados, e será uma penitência a pagar por toda a vida. Que homem culto nunca ouviu uma chacota após afirmar uma verdade imutável? Que homem genial nunca escutou um repetidor de sensos comuns lhe perguntar onde estavam as fontes de suas afirmações? O homem justo e sério nunca terá muitos amigos, mas, como eu, pode estar sempre bem acompanhado com Sócrates, Cícero, Santo Agostinho, São Boaventura, Léon Bloy, G.K. Chesterton entre outros, e o próprio Cristo. Com Sêneca afirmo que “ninguém permite que sua propriedade seja invadida, e, havendo discórdia quanto aos limites, por menor que seja, os homens pegam em pedras e armas. No entanto, permitem que outros invadam suas vidas de tal modo que eles próprios conduzem seus invasores a isso. Não se encontra ninguém que queira dividir sua riqueza, mas a vida é distribuída entre muitos!” Se ninguém distribui dinheiro, por que eu distribuiria meu tempo, que é mais valioso? 

Não falo só por mim, mas por outros que estão dispersos, proscritos, malditos. Às poucas pessoas lúcidas que entendem que o encontro entre Javã e Abrão impulsionou o homem ao ápice da intelectualidade, e tudo o que fugir disso é demoníaco e deve ser anatematizado. 

Seria a humanidade moderna, salvo raríssimas exceções, uma vara de porcos? Não, porcos são limpos e mais inteligentes que moscas.

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(*) O homem caiu por influência da antiga serpente, mas devido ao livre-arbítrio. Deus não nos criou para sermos escravos, Ele deu liberdade aos homens e aos anjos. O filho de Deus se rebaixou deixando seu trono nos céus para servir de escada e ponte redentora e amorosa que nos livra do erro.

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